segunda-feira, maio 17, 2010

“Se a música é o alimento do amor, toque”. (William Shakespeare)



Tenho conseguido algumas conquistas que talvez para muitos possa significar nada demais, mas no estágio que me encontrava, vi que progredi. Ficava jogado na cama, no sofá, só dormindo, sem vontade de fazer mais nada. Queria morrer. Às vezes ainda quero. Quando os amigos perceberam o buraco em que eu estava caindo, me indicaram uma terapeuta, e foi o que fiz. Achava que nunca fosse precisar de um psicólogo, achava um absurdo pagar para alguém me ouvir. Mas hoje sei do quanto estava errado. Um profissional te dá às ferramentas para você passar pelos problemas com mais serenidade, com menos dor e sofrimento. E foi assim que consegui vencer algumas etapas nesse luto. A primeira delas foi conseguir olhar as fotos. No começo não queria ver foto alguma, sabia onde elas estavam e passava com a cabeça baixa sem querer olhar. A terapia foi muito importante para que eu pudesse ter novamente o prazer de ver fotos e olhar o Eduardo. E como temos muitas, ficava difícil circular pela casa sem olhar as várias que existem espalhadas. Mas confesso que foi bem difícil. Olhar uma foto do Edu sorrindo foi muito triste. Chorava sem parar ao lembrar aquele momento da foto e o pior, me conformar que nunca mais ele estará presente ali para repetir aquele sorriso ou fazer qualquer outro gesto. Dói muito pensar que nunca mais vou poder tocar na pessoa que amo. Felizmente superei e voltei a ter vontade em rever as fotos e até consigo brincar de Deus às vezes quando coloco uma foto do Eduardo junto com anjos, fadas, com Deus, ou em qualquer paisagem onde nunca estivemos.

Mas infelizmente o mesmo não aconteceu com ouvir músicas. Sempre fiz todas as minhas atividades com o rádio ligado, hoje não consigo ouvi-lo. Se forem músicas românticas me dá vontade de chorar porque acho triste. Se forem alegres não me agrada por que não estou feliz o suficiente. Tenho que escolher o ritmo que quero ouvir porque senão choro mesmo. Muitas vezes já sai de um determinado lugar só porque estava tocando uma música que era só nossa. A música tem esse poder de tocar nos nossos sentimentos, tanto os alegres quanto tristes. E tem força também porque são capazes de registrar um momento como a fotografia. Elas marcam para sempre as nossas vidas.

Sempre gostei muito de ouvir música e sei da importância que ela tem nas nossas vidas. Li que a boa música tem uma força excepcional no equilíbrio da pessoa. Ela tem o poder de energia, de reduzir os stress, e mesmo de estabelecer o equilíbrio. A Bíblia cita que foi a harpa de Davi que tirou o rei Saul de uma depressão. No Talmud (livro Judaico), há referências a um aparelho que fazia com que gotas d'água caíssem continuamente em um vaso de metal, criando com isso um som murmurante contínuo que ajudava a pessoa a adormecer e a recuperar-se. Sempre acreditei nesse poder e nessa força da música, mas no momento não está fazendo em mim esse efeito. Só tem me deixado triste mesmo. Não deixei de acreditar, mas estou num processo de me reconstruir, de recuperar os sentimentos que adormeceram com a passagem do Eduardo, por isso a dificuldade em conquistar esse prazer de ouvir música novamente. Espero que assim como as fotos eu possa voltar a ouvir as canções que fizeram a trilha sonora das nossas vidas.

No momento tenho andado bem saudosista, acho mesmo que tenho tido algumas recaídas e uma canção não me sai da cabeça. Ela faz parte de um CD com a trilha sonora dos filmes do Almodóvar. É um bolero bem triste é verdade, mas sempre me chamou a atenção porque sua letra é quase uma oração, uma suplica da pessoa amada que fica triste com a partida do seu amor. Também acho bonita porque passa uma mensagem positiva dessa pessoa que acredita que a morte não existe e que esse grande amor vai continuar um dia. “Por isso, eu te peço, por favor, Espera-me no céu”.


Espera-me no céu
Composição: Francisco Lopez Vidal

Espera-me no céu coração
Se é que se vai primeiro
Espera-me que pronto eu irei
Aí onde você estiver
Espera-me no céu coração
Se é que se vai primeiro
Espera-me no céu coração
Para começar de novo
Nosso amor é tão grande, e tão grande Que nunca termina.
E esta vida é tão curta e não basta Para nosso idílio
Por isso, eu te peço, por favor, Espera-me no céu.
E aí entre as nuvens de algodão Faremos nosso ninho

3 comentários:

Glaucia disse...

Essa cançao é linda. Tenho certeza que, assim como aconteceu com as fotos, voce vai conseguir voltar a ouvir musica e lidar com a saudade que cada cançao traz. A saudade nao vai deixar de existir, mas voce faz bem em estar procurando lidar com ela da melhor maneira possivel, inclusive procurando ajuda profissional.
Grande abraco,
Glaucia

Carol disse...

Oi, José!
Você não me conhece, mas meu bb-gato era paciente do Eduardo desde filhotinho, e agora já tem 10 anos. Fiquei sabendo agora a pouco do que aconteceu e fiquei muito, muito triste. Não consigo imaginar o tamanho da sua dor. Eu fiquei até meio sem chão, pois sabia que além de um profissional fora de série, ele também era uma pessoa extraordinaria.
Força, cara, muita força. Ele está agora num lugar melhor, ele sempre foi uma excelente pessoa, cuidando e ajudando daqueles que não podem verbalizar suas dores e injustiças, e com certeza está muito bem agora.

bjs

José Carlos Albernaz disse...

Carol, fico muito feliz com suas palavras. Realmente Edu era uma pessoa muito especial. Se puder escrever para o email josez39@hotmail.com para me contar sobre como o conheceu, a qto tempo tratava de sua filhinha, de que bairro é.Estou tentando reunir várias histórias dele com seus clientes/amigos. Muito obrigado mesmo! José Carlos