segunda-feira, maio 31, 2010

O poder da superação

A filosofia explica que essa qualidade que o ser humano tem de superar suas limitações foi vista de maneira diferente por dois filósofos: Schopenhauer e Nietzsche. O primeiro era um pessimista de carteirinha e achava que nada, ou pouco, podia ser feito para mudar o rumo das coisas. Ele apenas achava que quando algo de ruim sucede na vida de alguém, isso se deve a forças externas muito maiores que as forças próprias dessa pessoa. Então, de pouco adiantaria lutar. Ele não era fatalista, mas, de certa forma, era conformista. O segundo acreditava na capacidade do homem em “dar a volta por cima”, apesar de achar que isso não era para todos. “Tudo o que não me mata me fortalece”, teria dito o filósofo, dando a entender que possuímos o poder de superar nossas fraquezas e nossas dificuldades, e que são estas que acionam o gatilho que dispara tal poder. A força está em nós basta usá-la. Claro, nem todos conseguirão usar esse poder interior.

Vi Dn Lucia pela primeira vez em 11 de dezembro de 1993, quando foi inaugurada a Veterinária Cara de Bicho, sociedade que o Eduardo tinha em Jacarepaguá. Nossos contatos inicialmente sempre foram por telefone, sem um envolvimento mais próximo. Depois que viajamos por duas temporadas para o estado do Espirito Santo, sua terra natal que o gelo foi quebrado e nesses dias parecia até que havia iniciado uma amizade entre a gente. Mas quando voltávamos tudo continuava como antes. Nesses afastamentos acho até que me considerava um estranho, tamanho era sua frieza ao falar comigo por telefone. Mesmo nas poucas vezes que passávamos juntos no apto do recreio, nosso relacionamento sempre foi formal, embora tivéssemos dias alegres, com bastantes conversas e histórias, já que é uma boa contadora de histórias. Mas dentro desse distanciamento sempre me tratou bem. Enfim, sempre entendi esse seu jeito e respeitava.

Fui sabendo muito mais sobre a Dn. Lucia pelo que o Eduardo me contava. E nesse seu currículo de vida o que mais chamava a atenção era a quantidade de problemas de saúde que ela passou a apresentar num determinado período da sua vida. Foram problemas sérios, graves, ainda mais para uma pessoa com a sua idade. O mais grave até então foi seu problema no joelho que a obrigou a algumas cirurgias, mas não impediu que precisasse andar de bengala. Se já não bastava esse caso, um problema no coração fez com que enfrentasse outra cirurgia bastante séria. Esses fatos me impressionaram, e por tudo isso ela se enquadra perfeitamente no que Nietzsche diz sobre o poder de superação que algumas pessoas têm. E por incrível que pareça ela precisou demonstrar várias vezes que tem esse poder. Qualquer outra pessoa, até mesmo mais jovem estaria se revoltando com tantos reveses que a vida apresentava, mas nunca percebi isso nela. Nunca a vi se lamentando por passar por esses desafios.

Edu ainda estava conosco quando se descobriu a necessidade de uma nova cirurgia na perna da sua mãe. Acompanhou todo processo para refazer essa cirurgia, mas como seu caso naquele momento era o mais importante, ela pode esperar e somente agora nessa semana vai poder reparar um erro cometido na cirurgia anterior. Estaremos rezando para que tudo dê certo. E vai dar. Basta olhar seu histórico de dramas para considera-la como uma mulher de fibra, de coragem e força. Nunca me passou que ela se abatia com essas dificuldades, no final sempre saia contando histórias dos momentos que estava hospitalizada e agradecida ainda distribuía as suas tradicionais medalhinhas dos mais variados santos a médicos e enfermeiros. Por tudo que já passou não me parece que seja uma mulher que desiste facilmente. Ela sempre deu a volta por cima em outras situações e mais uma vez é isso que esperamos dela em mais essa luta que irá enfrentar, mesmo tendo passado por um drama bem maior recentemente. Sei que em nome desse filho ela vai ser forte novamente e mostrar para ele que venceu mais essa cirurgia.

Que ela retorne para sua casa e depois de recuperada ir agradecer a Nossa Senhora Aparecida por mais essa graça alcançada. Sei que é isso que ela vai querer fazer porque era isso que o Eduardo queria que ela fizesse. Na última vez que fomos à cidade de Aparecida ele ficou todo entusiasmado ao ver que havia cadeiras de rodas no estacionamento que facilitava a circulação por toda a Basílica de pessoas com dificuldades de locomoção. Sei que isso deve estar na cabeça dela nesse momento e com certeza esse pensamento vai lhe dar mais força para passar por mais essa provação. Deus a abençoe.

sábado, maio 29, 2010

Primo Augusto vai casar!

Hoje esse garotinho da foto estará se casando em Curitiba e boa parte da família já está lá. Como o tempo passa depressa, parece que foi ontem que tirei essa foto da minha Tia Deise grávida. Esse molequinho que quando criança era “encapetado”, era o tipo de criança igual a tantas outras que não se conformam com os adultos dando-lhe limites, principalmente quanto esses limites lhe impediam de fazer coisas erradas que ele entendia serem apenas brincadeiras inofensivas. Algumas vezes consegui entreter toda sua energia pedindo para me ajudar em alguns trabalhos de colagem nas fantasias de carnaval. Mas não durava muito seu período de concentração, logo se cansava e estava pronto para pensar no que fazer para atormentar a vida das tias que tomavam conta dele.

Pois esse garotinho cresceu, amadureceu (?) e hoje a família com certeza estará se emocionando no seu casamento e lembrando essa sua fase rebelde sem causa, só que dessa vez vão rir, estarão achando graça daquelas estripulias que elas não achavam a mínima graça. Hoje estarão todas as tias reunidas numa mesa e com certeza vão lembrar esses fatos as gargalhadas. Cada uma contando alguma passagem engraçada com o Augusto criança. Vão estar se referindo a ele como um rapaz que mudou muito. Estarão também rezando e chorando para que ele seja bem feliz nesse novo momento da sua vida. Impossível ser diferente numa família tão emotiva e participativa como essa.

Se um simples fato já é motivo para festa, imaginem quando realmente existe um motivo para comemorar. Ou dois. Ai mesmo que ninguém segura essa família. E um casamento de um sobrinho, um primo é motivo mais que suficiente para se reunirem, nem que seja em outro Estado. Espero que esse meu primo saiba que não estará passando da liberdade condicional para a prisão. O casamento representa muito mais que isso. Antigamente casar era constituir uma nova família. Há algum tempo que representa a união de duas pessoas que optaram por viverem juntas. Cada um dos parentes, amigos e colegas quando forem lhe parabenizar com certeza lhe dirão várias coisas, mas não vão deixar de felicita-lo e torcer para que ambos não esqueçam nunca do respeito mútuo, da cumplicidade, do companheirismo e da celebração do amor.

Todos nós sabemos que seu casamento implica num momento bem mais feliz do que a própria cerimônia em si. Imagino que você deve ter conversado primeiro com sua mãe que por sua vez conversou com seu pai. Os dois, com certeza, choraram, perderam algumas noites de sono, mas depois conversaram com você, com sua noiva. E se chegaram até aqui é sinal que estão bem preparados, que estão maduros e prontos para celebrar esse casamento com alegria e fé. Não vivemos mais no século passado. Mas mesmo assim, se ficou algum resquício de olhar atravessado, de frases não completadas por qualquer pessoa, não se preocupem. Não liguem para o que os outros vão dizer. Liguem para o que vocês querem por toda a vida. Tenham sempre em mente que O Senhor Jesus, que viveu nossa natureza humana, igual a nós em tudo, menos no pecado, nos ensinou a rezar o Pai Nosso. Nesta oração encontramos uma parte que diz: "não nos deixeis cair em tentação". Ele sabia que nós seríamos tentados, nunca acima de nossas forças, mas que a tentação existiria em nossas vidas. Por isso Ele nos mandou rezar. Nem sempre fazemos isso e qual de nós nunca pensou: "comigo isto não vai acontecer?”... E acontece... Diga isso a essas pessoas e sejam felizes.

Juízo, pelo amor de Deus!!!

Com o carinho, do primo Zé Carlinhos.





sexta-feira, maio 28, 2010

Recreio com legendas

Desde que viemos para o Recreio em 2001, começamos a circular a pé (FOTO 23) pelo bairro para conhecer tudo que havia por perto que pudesse nos ajudar, tanto na montagem do apartamento como oque fazer para lazer, diversão, e das necessidades do dia a dia. Precisávamos encontrar por perto desde uma simples loja de material de construção a um restaurante para as refeições por que nesse primeiro ano não havia gás no nosso apartamento. Até hoje o bairro carece de uma infraestrutura para essas necessidades diárias, mas há nove anos era pior. Pra começar, a própria rua ainda era de terra batida (FOTO 17). E por isso era mais desabitado ainda. Considerávamos isso um ponto positivo porque assim fazia com que a rua tivesse um clima de cidade do interior, tranquila e silenciosa.

Aos poucos fomos descobrindo o centro comercial do Recreio (FOTO 1), que fica no caminho para a praia e que atendia essas necessidades. E na verdade continua atendendo. Lá tem uma padaria (FOTO 2), uma drogaria, uma locadora de filmes, uma casa de sucos, uma casa de material de construção, uma loteria esportiva, uma papelaria e uma vidraçaria. Mesmo com a abertura de vários supermercados (FOTO 12), foi nessa padaria que passamos além de fazer compras, a fazer as refeições ou então comprar seu famoso frango assado para o almoço. Edu adorava comprar esse frango para incrementar com suas receitas nosso almoço. Nada era tão trivial como parecia (FOTO 24). Esse frango se transformava num prato requintado e muito saboroso com suas idéias adicionais. Edu tinha um prazer enorme de cozinhar e foi se aprimorando com o tempo.

Nesse centro comercial ele fazia seus jogos da mega sena todo o sábado. Acho que além do trabalho esse foi seu único vício. Saia da loteria (FOTO 1) dizendo sorrindo que no domingo seríamos os novos milionários do bairro. Mas enquanto esse dia não chegava, aproveitávamos o sacolão (FOTO 14) que funciona no estacionamento desse centro comercial para comprar legumes, verduras e frutas. Eduardo tem uma relação com feiras muito forte. Deve ter sido feirante numa vida passada. Para ele era uma diversão e um prazer enorme ficar escolhendo esses produtos. E assim fomos descobrindo no bairro onde alimentar o corpo.

Com o tempo adquirimos duas bicicletas (FOTO 6) para os passeios mais longos. Chegamos ir até a praia da Reserva (FOTO 25) e a prainha (FOTO 28) pedalando. Virou um hábito muito prazeroso, pedalar lado a lado, conversando, sentindo a maresia e o vento no rosto. Desbravando o bairro (FOTO 33), nos divertíamos aprendendo os nomes das ruas mais próximas e as mais importantes (FOTOS 34).

De inicio íamos muito ao Shopping Via Parque (FOTO 13), especificamente para ir ao cinema, mas quando surgiu o Shopping Recreio (FOTO 15), acabou virando nosso point para assistir filmes. Não é um shopping muito frequentado por que não tem muitas variedades de lojas, mas é tranquilo e além dos cinemas tem uma boa praça de alimentação. Edu era muito calorento e passeios em Shopping para ele era um alivio em dias muito quentes. Pronto já tínhamos descoberto nosso espaço para lazer.

Aos poucos o bairro foi crescendo e vários restaurantes foram surgindo ao longo dos anos e alguns bem pertos que podíamos ir a pé. A Adega do recreio foi o primeiro e durante anos ria cada vez que íamos lá porque como eu não gostava do atendimento reclamava que não voltaria. Na pizzaria Domino´s íamos poucas vezes, na maioria pedíamos para entregar em casa, a oficina do Chopp era ideal para sábado a noite beber um chope e conversar, o Barraco era para um encontro especial com os amigos, no restaurante Romanella (FOTO 22) foi nosso point nos almoços de domingo e algumas vezes no rodízio de massas à noite, o comida mineira era para quando estávamos realmente dispostos a comer muito, quando não íamos jantar na Parmê pedíamos em casa, no Manuel e Juaquim Edu gostava dos pratos diferentes e por fim a Churrascaria Estrela do Sul foi o local que brindávamos algumas datas especiais.

Aos poucos fomos definindo nossos cantos preferidos pelo Recreio. Se fossemos caminhar, o sentido sempre era no da Barra porque era menos movimentado. Íamos até o último quiosque (FOTO 11), parávamos ali para beber uma água de coco e ele fazer seus abdominais (FOTO 31). Claro, nunca era somente uma simples caminhada, tinha sempre que se exercitar (FOTO 3). Nesses últimos meses, nossas caminhadas não iam mais até o último quiosque, chegávamos até uma árvore (FOTO 3) no final da ciclovia. Sentávamos ali para usufruir da sombra, descansar e conversar. Essa árvore foi testemunha de muitas conversas sérias que tivemos. Não gostava de vê-lo calado e insistia em saber o que estava pensando e sentindo. E como sempre, me poupava com suas respostas cautelosas. E assim fomos levando, acreditando que tudo iria passar. Talvez entre tantos lugares que escolhemos para ser nosso cantinho, essa árvore é a que mais revela momentos tristes.

Mas o Recreio sempre foi para nós, um bairro que nos trouxe muitas alegrias. É um bairro de praia (FOTO 7), de sol, de vida. E foi por isso que viemos para cá. Em busca de felicidade, de tranquilidade e de ter a sensação de estar num bairro que não parecesse ficar dentro da cidade. E o Recreio sempre nos pareceu ser assim.

Foi pensando nessa tranquilidade que escolhemos nosso lugar na areia da praia. A informação para os amigos era logo depois do segundo quiosque após o posto nove (FOTO 18). Ficávamos bem ao lado da barraca do Paulo. Ali era nosso point (FOTO 4). Não ficava cheio e passávamos nosso tempo ali, ouvindo o barulho das ondas, vendo o azul do céu, os ambulantes gritando para vender suas mercadorias, os surfistas, os pássaros e algumas vezes os artistas de TV. Levávamos a cadeira, toalha e o guarda sol. Mesmo se enchendo de Sundown para não ficar “manchetado”, como ele dizia, Edu ficava embaixo, lendo seus livros ou revistas de veterinária. Eu ficava na cadeira lendo meu jornal. O mundo poderia ter parado nesse momento porque eram momentos que não fazíamos nada, mas nem por isso deixava de ser especiais. Vez por outra um comentário do livro ou do jornal transformava-se num debate sem fim. Gostávamos de compartilhar assuntos intrigantes ou apenas comentar uma novidade. Um completava o outro nas informações que lia (FOTO 8). Consigo fechar os olhos e lembrar essa cena se repetindo por vários finais de semana. Como eu aprendi conversando com ele, como admirava sua inteligência, seu raciocínio rápido, sua capacidade de explicar as coisas. E tive a oportunidade de dizer isso mil vezes olhando nos seus olhos. Que bom que sempre fui assim, falador. Digo e repito mil vezes quando amo, quando estou feliz, quando admiro, quando me emociono. E ele me fez sentir tudo isso e graças a Deus não levo remorso por ter deixado de falar essas coisas (FOTO 32).

Nesse canto da praia ficávamos sozinhos ou vez por outra na companhia da Sheila ou de tantos outros amigos que puderam conviver com essa nossa rotina simples de vida (FOTO 19). Quando terminava sua leitura, se levantava e eu já sabia o que ia fazer. Correr e fazer sua musculação nos aparelhos da praia (FOTO 10). Ficava admirado com a sua disposição. Tinha orgulho de como se cuidava. De como tinha prazer de se exercitar. Era nesse pequeno território na areia que no réveillon (FOTO 9) ficávamos para ver a queima de fogos e brindar a chegada de um ano novo.

Hoje passo por ali e fico olhando o vazio, tentando lembrar quantos finais de semana estivemos ali, rindo ou conversando. A praia hoje está vazia, assim como eu (FOTO 16). Dói-me ficar olhando as ondas e aquele nosso espaço na areia e saber que não vão se repetir mais. Como pode? Não entendo. Até ontem ele estava aqui (FOTO 5), podia sentir seus braços, podia vê-lo correr na areia, olhar para o seu rosto, rir com ele (FOTO 20). Isso tudo acabou. Tenho que aceitar. Tenho que seguir em frente. Tenho passado os dias brigando com a saudade. Refaço esses cantos que escolhemos todos os dias para tentar amenizar esse vazio. Quando me deparo com esses cantos, revejo nossa vida. Percebo que o Recreio não é mais a mesma coisa para mim. Perdeu o encanto, o charme (FOTO 21). Não é mais aquele bairro que conheci pelos comentários do Eduardo. Sim porque era ele quem me chamava à atenção para uma construção nova, um prédio com uma arquitetura diferente (FOTO 29), uma árvore que foi plantada na praça (FOTO 26), o lixo jogado na lagoa, os micos passeando nas árvores, a má conservação dos aparelhos de musculação, a revoada dos pássaros no final de tarde, os jacarés de papo amarelo (FOTO 30), as várias raças de cachorros que encontrávamos pelo caminho (FOTO 27), e tantas outras coisas que foram fazendo com que o Recreio crescesse. Hoje para mim, o Recreio está sem legendas. As imagens que vejo continuam com as mesmas legendas que ele me disse um dia (FOTO 29) e para mim são definitivas.



quarta-feira, maio 26, 2010

Converse com seu Anjo da Guarda


Diz o anjo:

"Estou ao seu lado e sou aquele que nunca desacredita dos seus sonhos.

Sou eu que, às vezes, altero seu intinerário e até atraso seus horários para evitar acidentes ou encontros desagradáveis.

Sim, sou eu que falo ao seu ouvido aquelas “inspirações” que você acredita que acabou de ter como “grande idéia”.

Sou eu quem te causa aqueles arrepios quando se aproxima de lugares ou situações que vão te fazer mal.

E sou eu quem chora por você quando, com a sua teimosia, insiste em fazer tudo ao contrário, só para desafiar o mundo.

Quantas ruas eu te guiei em segurança? Não sei, perdi a conta, e isso não importa.

O que realmente importa é quando você assume a postura de vítima do mundo, quando não acredita na sua capacidade de resolver os problemas, quando aceita as situações como insolúveis, quando para de “lutar” e simplesmente reclama de tudo e de todos, quando desiste de ser feliz e culpa outra pessoa pela sua infelicidade.

Quando se esquece até do seu anjo da guarda, aquele que Deus deu a honra de te auxiliar nessa missão tão difícil e maravilhosa que é viver.

Já que me deixaram falar diretamente com você, gostaria de te lembrar, que estou ao seu lado sempre, mesmo quando acredita estar totalmente só e abandonado, até nesse momento eu estou segurando a sua mão, consolando seu coração, te olhando...

Fico triste com a sua tristeza, mas como eu sei que você nasceu para brilhar, agradeço a oportunidade bendita de te conhecer e cuidar de você, porque você é realmente muito especial".

segunda-feira, maio 24, 2010

A morte física, a hora de voar

As metáforas, conforme certa vez definiu um poeta, são pontes poéticas que o amor constrói e que fazem ligação entre coisas e conceitos.

As escrituras sagradas das diferentes tradições religiosas não raramente lançam mão de metáforas para tornar mais claro o entendimento das verdades do mundo espiritual.

E dentre as metáforas poéticas que os versos sagrados utilizam, uma das mais belas é uma passagem do texto da Fé Bahá´í (*), que compara o corpo físico a uma gaiola

Imaginar que o Espírito pereça ao morrer o corpo é como imaginar que o pássaro morra ao quebrar-se a gaiola. Nosso corpo é apenas a gaiola, enquanto o Espírito é o pássaro. Nada tem o pássaro que recear, porém, com a destruição da gaiola. A morte física – um mergulho no infinito, a hora de voar.

E ao deslizar pelo céu, as aves nos recordam dos nossos entes queridos que já partiram. Uma metáfora visual e poética que se revela aos que se dispõe a enxergar além do que os olhos podem ver.

E as aves nos recordam ainda que em breve também chegará a nossa hora de voar.

O corpo, frágil argila, sofre os efeitos do tempo. A alma, puro sopro, é eterna.

Aproveitar os nossos breves e incertos dias para alimentar a nossa alma com coisas boas. Uma dieta espiritual farta de Amor, Bondade, Caridade, Pureza, Compaixão, Perdão, Justiça, Virtudes, Gratidão e Bem-Aventuranças. De modo que, quando a hora derradeira bater a nossa porta, possamos voar com asas limpas e puras até as mais sublimes alturas.

(*)É uma religião mundial, independente, com suas próprias leis e escrituras sagradas, surgida na antiga Pérsia, atual Irã em 1844. A Fé Bahá’í foi fundada por Bahá’u’lláh, título de Mirzá Husayn Ali (1817-1892) e não possui dogmas, rituais, clero ou sacerdócio.

domingo, maio 23, 2010

O Ressuscitado envia seu Espírito

Neste final de semana termina a comemoração do Divino Espirito Santo. Uma festa católica que pode ser encontrada em praticamente todas as regiões do país, apresentando características distintas em cada local, mas mantendo em comum elementos como a pomba branca. Essa festa tem como significado, receber o Divino Espirito Santo e suas bênçãos, distribuir esmolas e alimentos.

A origem remonta às celebrações religiosas realizadas em Portugal a partir do século XIV. Essas celebrações aconteciam cinquenta dias após a Páscoa, comemorando o dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu do céu sobre os apóstolos de Cristo e a Virgem Maria reunida no cenáculo (local da última ceia), marcando o nascimento da Igreja. Desde seus primórdios, os festejos do Divino, realizados na época das primeiras colheitas no calendário agrícola do hemisfério norte, são marcados pela esperança na chegada de uma nova era para o mundo dos homens, com igualdade, prosperidade e abundância para todos.

O símbolo da Festa do Divino é a mandala de fogo com a pomba branca ao centro. A pomba significa o próprio Divino Espírito Santo e a mandala de fogo o momento que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos. 


E como estamos na semana dessa festa, lembrei-me das vezes que a figura do Divino entrou em nossas vidas. Pode não representar nada mais do que uma simples peça de artesanato colocada na parede para decoração, mas curiosamente fomos atraídos pela figura do Espírito Santo em vários momentos da nossa vida por algum motivo.

 
Para começar, minha mãe passou a frequentar a Paróquia Nossa Senhora do Divino Amor desde que meu irmão se foi. A relação dela com essa igreja é muito forte porque foi ali que ela encontrou o conforto por essa perda. Nós entramos ali bem poucas vezes, mas Edu adorava a imagem dessa Nossa Senhora porque ela está segurando a pomba do divino. É uma imagem muito bonita e bem diferente. Edu ficava fascinado com a beleza dessa imagem. Ele tinha um olhar muito atento para as coisas belas, era muito observador. Nossa relação com essa igreja só viria a ser mais forte tempos depois e nem imaginávamos que seria do jeito que foi.

 
Em 2006 quando visitamos pela primeira vez a cidade do samba para tratar de assuntos da ala, na sala do carnavalesco tinha uma bela peça da pomba do Divino e mais uma vez aquilo deixou o Eduardo admirado com a riqueza dos detalhes talhados em isopor. Uma simples peça carnavalesca, mas uma grandiosa obra de arte. Por algum motivo àquela pomba atraia seu olhar, o deixando fascinado.

 
Já que o significado da festa é receber o Divino, quis o destino que as portas da nossa casa fossem abertas para receber o nosso primeiro Divino quando fomos presenteados pela nossa amiga Cássia. Edu ficou bastante feliz com o presente e logo tratou de arrumar um lugar na parede da sala de jantar. Encantou-se tanto com a imagem que aonde íamos ficava admirado sempre que via um. A chegada do segundo Divino foi por acaso. Estávamos passeando pelo Shopping Via Parque quando Edu avistou num cesto várias pombas do Divino feitas de madeira num quiosque de artesanato. Ele se encantava com a riqueza de detalhes daquele trabalho de madeira tão delicado que ficava por vários minutos escolhendo o mais perfeito entre tantas pombas. Analisava um por um calmamente até ter certeza de que o escolhido era o perfeito. Comprou a pomba e pendurou no final do corredor. Todos os trabalhos em madeira e feitos a mão tinha um valor imenso para ele. Nosso terceiro Divino ele conseguiu avistar também por acaso, no alto de uma parede cheia de objetos numa loja no Shopping Barra World. Lindo, perfeito e definitivo, pois esse tinha a pomba e a mandala. Uma peça única, de madeira, feita a mão por um artesão do interior de Minas Gerais. Apaixonou-se por essa obra. Fechamos facilmente o negócio com a Dn. da loja, o difícil foi levar aquela peça enorme para casa já que não estávamos de carro naquele dia. Felizmente era dividido em duas, então cada um trouxe uma parte. Eu a mandala e Edu a pomba. Estava feliz, parecia uma criança que havia ganhado um brinquedo que queria tanto. Edu não era materialista, ele gostava de admirar a beleza de um trabalho artesanal, e buscava sempre escolher um lugar de destaque para valorizar ainda mais a peça e decorar a casa. E fazia isso com uma perfeição imensa, tamanho o seu bom gosto. E foi assim com esse Divino, escolheu um lugar de destaque na casa e lá está, para sempre me trazendo muita paz quando olho para ele. Cada peça comprada por ele tem muito do seu jeito, do seu estilo, mas esse Divino é realmente a maior peça comprada para o apartamento, vale pela beleza, mas também pelo esforço e a vontade de querer aquela pomba bem ali no centro daquela parede. Não há como passar por ali sem perder alguns segundos para admirar sua beleza. É hipnotizante.

Pois bem, voltamos a Paróquia Nossa Senhora do Divino Amor, dois dias antes da cirurgia do Eduardo em dezembro. Minha mãe queria muito que ele fosse assistir uma missa lá e foi isso que fizemos. Tentávamos disfarçar o nervosismo com a proximidade da cirurgia, eu mais do que ele. Cheguei a perguntar se estava nervoso e me respondeu com sua firmeza de sempre que não. Tinha medo do que viria depois, completou. O médico nessa hora falava mais alto e isso me assustava. E foi assim, com o coração apertado que assistimos a missa, tentando absorver as palavras do Padre Rogério. Ao final da missa minha mãe nos levou a sacristia para falar com o padre. Explicou o que Edu tinha e o padre Rogério pegou um óleo e se preparou para dar a ele uma unção. Nesse momento nos explicou o que seria uma unção. Estava emocionado demais para ficar ali e sai, mas pude ouvir sua explicação que Unção é o poder de Deus, na vida de uma pessoa, para que ela possa: curar, libertar e abençoar as pessoas necessitadas. Não tem nada a ver com extrema-unção. Fiquei sabendo pela minha mãe que Edu chorou todo o momento que o padre rezava e o ungia com o óleo. Sou um fraco e nunca perguntei o motivo desse choro, mas minha mãe acha que se emocionou com as palavras do Padre. Prefiro a sabedoria dela a pensar besteiras. Resolvi ficar ao lado do altar chorando e rezando para a Santa que ele tanto admirava. Fiquei feliz em ter aprendido que Unção é mais forte que a benção e foi acreditando nessa força que fomos vencendo algumas etapas enquanto tínhamos forças.

Somente agora percebo que não foi por acaso que abrimos a porta e o coração para o Divino entrar. Ele precisava nos acompanhar de perto, segurar em nossas mãos e nos abençoar. Ele não só nos visitou, ele veio para ficar, não só nas paredes, mas em nossos corações e nossas vidas.



sexta-feira, maio 21, 2010

O verdadeiro ciclo da vida

“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás para frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado para fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.

Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Ai você curte tudo, bebe bastante, faz festas e se prepara para faculdade.

Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando...

E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?”

Charles Chaplin

quarta-feira, maio 19, 2010

O Encrenqueiro


Quando conheci o Eduardo na boate Gaivotas nos anos 90, terminamos a noite dentro do seu carro conversando perto de um trailer no via onze na Barra da Tijuca. Naquele tempo a noite terminava naquele trailer, o único aberto para o último lanche antes de voltar para casa. Conversávamos de mãos dadas dentro do carro. Era um tempo que não havia insufilm, mas já havia pitboys. Também não eram dias onde qualquer cidadão andava armado. Portanto, quando esses pitboys começaram a fazer piadinhas conosco, eu sai de dentro do carro já tomando satisfação. Claro que não eram pitboys como os de hoje, nem marombados e muito menos unidos e tampouco corajosos. Assustaram-se com um simples “qual é o problema?”. Acho que não acreditaram que eu pudesse fazer aquilo. Felizmente não passou disso. Pior foi voltar para o carro e ver a cara assustada do Eduardo e ouvir pela primeira vez me chamando de encrenqueiro. Edu era tímido e ao invés de me ajudar ou me parabenizar pelo ato heróico, me chamou de encrenqueiro. Eu querendo impressionar o cara que havia acabado de conhecer e ele me chamando de encrenqueiro. Claro que terminamos rindo daquela situação toda. Mas repetiu por toda a nossa vida essa palavra quando eu agia mais exaltado para resolver certos problemas. Com o tempo a palavra foi encurtando ao ponto de inventar outra para esses momentos. Dizia “Já vai crencar”? (saudades de ouvir essas palavras que ele inventava para mim).

Eduardo não gostava de brigas, discussão ou bate bocas. Estava certo, era um lorde, eu um plebeu. Claro que com o tempo ele até aprendeu a se exaltar e me surpreendeu várias vezes quando passou a brigar pelos seus direitos, mas no início, essa briga ficava somente para o encrenqueiro. Quando achava que um problema fosse complicado para resolver, preferia que eu fizesse. Quantas vezes tive que me passar por ele, pelo menos via telefone, para resolver esses problemas mais difíceis que sabia que ia ser longo e provavelmente seria necessário um bate boca. Cancelamento de cartões, faturas cobradas indevidamente, compras efetuadas e nunca entregues, troca de produtos com defeitos, enfim, problemas do dia a dia que ele preferia que eu resolvesse porque sabia que mesmo por meios tortos, iam ser solucionados mais rapidamente. Um dos últimos problemas que resolvi foi conseguir tirar no prazo de um dia seu material para biópsia quando o laboratório dava sete dias para essa retirada. Não tínhamos esse tempo de espera e já havia até um esquema todo montado para acionar a justiça se preciso fosse. Como sempre, ele confiou em mim para essa tarefa e não o decepcionei. Em menos de 3 horas havia conseguido que trouxessem o material de Caxias para Copacabana. E o melhor, dessa vez sem brigas. Havia momentos em que eu sabia ser um bom encrenqueiro.

O engraçado é que essa palavra nunca foi dita de forma que eu me sentisse o cara que criava confusões, o problemático ou briguento. Vinha sempre com o seu sorriso de aprovação para minha atitude. Ele gostava desse meu jeito. Era compreensivo demais para criticar esses gestos. E para ele, não importava os meios porque o importante era que eu resolveria, sempre que precisasse. E eu gostava quando me pedia ajuda para resolver esses assuntos que ele não gostava. Se pudesse tirava todos os problemas da vida dele, eu sempre queria vê-lo bem e feliz então, se esses assuntos o aborreciam, eu tratava logo de resolver para deixa-lo contente.

Sou uma pessoa tranquila, mas realmente não gosto de injustiças, seja ela qual for. Não consigo ver coisas erradas que se puder me intrometo mesmo. Parei com isso certa vez porque fui me meter no meio de uma briga entre um jovem que batia no seu cão com um pedaço de madeira. Além de me xingar o rapaz me ameaçou bater com a mesma madeira. Assustei-me porque os anos já haviam mudado. A partir desse momento passei a tentar resolver somente os assuntos que nos dizia respeito. Minha fase de justiceiro acabou ali.

O tempo foi passando e tudo mudando junto. Alguns avanços, algumas conquistas, mas as injustiças continuam por ai. No final de semana, estava encantado com a apresentação de um grupo de adolescentes encenando um musical da Disney na praça de alimentação do shopping Barra World, quando atrás de mim ouvi comentários agressivos e ofensivos a um dos jovens atores da peça. Uma das agressoras dizia entre outras barbaridades que o príncipe estava mais para princesa. O chamava de “bichinha novata, aprendiz de viado”, e não parava por ai. Tantas grosserias voltadas para um jovem artista que aparentava não ter mais que 15 anos. Praticamente uma criança. Não consegui ficar quieto, e todas as três ficaram paralisadas quando me virei para reclamar da maneira agressiva que falavam. No mesmo tom chamei a atenção delas que preconceito sexual é crime. E sem falar que estava atrapalhando o meu divertimento. Continuei com a minha lição de moral perguntando como reagiriam se ela, a agressora estive naquele palco representando uma princesa? Como sentiria se alguém começasse a ofendê-la dizendo que por ser negra ela não poderia fazer o papel de princesa e sim o da escrava. Claro que preferiram me xingar e foram se afastando provavelmente jogando toda sua ira em cima de mim. Essas três jovens tinham idades diferentes, aparentando variar entre 25 a 35 anos. Num primeiro momento me chocou por serem negras. Logo os negros que continuam lutando para combater o racismo. Infelizmente essas jovens não devem saber sobre a história da própria raça, além de preconceituosas eram ignorantes.

Sai do shopping bem chateado com aquela cena. Ainda bem que o jovem atacado nem chegou a ouvir as besteiras que foram direcionadas a ele. E sai pensando na minha vida. Em mim. Pensando o porquê tinha feito aquilo, se não seria melhor ter ficado calado. Talvez o jovem artista tivesse agido de outra maneira, nem dado ouvidos para aquelas pessoas tão insignificantes. Talvez fosse o certo a fazer, mas eu não sei ser assim. Esse não sou eu. Embora nunca tivesse passado por situação preconceituosa além daquela do dia que conheci o Eduardo, lembrei-me de um fato recente, onde me senti desrespeitado e humilhado. E o pior, ouvir tudo isso de pessoas que eu nunca poderia imaginar. Pessoas com quem dividi o mesmo copo de cerveja, dividi brincadeiras, passeios, festas, enfim, momentos alegres. Pessoas que me cumprimentavam com beijos no rosto. Vi olhares maldosos, me julgando e me recriminando. Chorei muito tentando entender o que havia feito para aquelas pessoas, o que havia mudado nessa relação. A tristeza aumentou quando comecei a pensar que foram momentos de mentiras. Essa relação nunca existiu de verdade. Minha dor vem daí, eu acreditava que gostavam de mim, mas apenas me toleravam. Eram sentimentos falsos e quando puderam mostrar a verdadeira face o fizeram sem a mínima sutileza. É difícil acreditar que você conviveu com pessoas que desconhecia. Fiquei triste, mas ao mesmo tempo fez ressurgir o encrenqueiro que tanto o Dr. Simonato gostava de ver. Se não fosse por ele, eu iria continuar dormindo com a mamãe e não teria tido forças para voltar para nossa casa, no dia certo, na hora certa. Tenho certeza que ele me levou de volta para casa. Pude me olhar no espelho e me reconhecer novamente. Minha atitude no shopping foi a reação que tive pela vida toda. Edu não só me trouxe de volta para a nossa casa, mas está me trazendo de volta a vida. Ainda não tenho a força do perdão dentro de mim, mas vou chegar lá. Sei que era isso que ele gostaria que eu fizesse. Vou continuar buscando entender essa situação, esvaziar meu coração de sentimentos ruins e preencher somente com os sentimentos bons. Sei que posso fazer isso. É o certo.

segunda-feira, maio 17, 2010

“Se a música é o alimento do amor, toque”. (William Shakespeare)



Tenho conseguido algumas conquistas que talvez para muitos possa significar nada demais, mas no estágio que me encontrava, vi que progredi. Ficava jogado na cama, no sofá, só dormindo, sem vontade de fazer mais nada. Queria morrer. Às vezes ainda quero. Quando os amigos perceberam o buraco em que eu estava caindo, me indicaram uma terapeuta, e foi o que fiz. Achava que nunca fosse precisar de um psicólogo, achava um absurdo pagar para alguém me ouvir. Mas hoje sei do quanto estava errado. Um profissional te dá às ferramentas para você passar pelos problemas com mais serenidade, com menos dor e sofrimento. E foi assim que consegui vencer algumas etapas nesse luto. A primeira delas foi conseguir olhar as fotos. No começo não queria ver foto alguma, sabia onde elas estavam e passava com a cabeça baixa sem querer olhar. A terapia foi muito importante para que eu pudesse ter novamente o prazer de ver fotos e olhar o Eduardo. E como temos muitas, ficava difícil circular pela casa sem olhar as várias que existem espalhadas. Mas confesso que foi bem difícil. Olhar uma foto do Edu sorrindo foi muito triste. Chorava sem parar ao lembrar aquele momento da foto e o pior, me conformar que nunca mais ele estará presente ali para repetir aquele sorriso ou fazer qualquer outro gesto. Dói muito pensar que nunca mais vou poder tocar na pessoa que amo. Felizmente superei e voltei a ter vontade em rever as fotos e até consigo brincar de Deus às vezes quando coloco uma foto do Eduardo junto com anjos, fadas, com Deus, ou em qualquer paisagem onde nunca estivemos.

Mas infelizmente o mesmo não aconteceu com ouvir músicas. Sempre fiz todas as minhas atividades com o rádio ligado, hoje não consigo ouvi-lo. Se forem músicas românticas me dá vontade de chorar porque acho triste. Se forem alegres não me agrada por que não estou feliz o suficiente. Tenho que escolher o ritmo que quero ouvir porque senão choro mesmo. Muitas vezes já sai de um determinado lugar só porque estava tocando uma música que era só nossa. A música tem esse poder de tocar nos nossos sentimentos, tanto os alegres quanto tristes. E tem força também porque são capazes de registrar um momento como a fotografia. Elas marcam para sempre as nossas vidas.

Sempre gostei muito de ouvir música e sei da importância que ela tem nas nossas vidas. Li que a boa música tem uma força excepcional no equilíbrio da pessoa. Ela tem o poder de energia, de reduzir os stress, e mesmo de estabelecer o equilíbrio. A Bíblia cita que foi a harpa de Davi que tirou o rei Saul de uma depressão. No Talmud (livro Judaico), há referências a um aparelho que fazia com que gotas d'água caíssem continuamente em um vaso de metal, criando com isso um som murmurante contínuo que ajudava a pessoa a adormecer e a recuperar-se. Sempre acreditei nesse poder e nessa força da música, mas no momento não está fazendo em mim esse efeito. Só tem me deixado triste mesmo. Não deixei de acreditar, mas estou num processo de me reconstruir, de recuperar os sentimentos que adormeceram com a passagem do Eduardo, por isso a dificuldade em conquistar esse prazer de ouvir música novamente. Espero que assim como as fotos eu possa voltar a ouvir as canções que fizeram a trilha sonora das nossas vidas.

No momento tenho andado bem saudosista, acho mesmo que tenho tido algumas recaídas e uma canção não me sai da cabeça. Ela faz parte de um CD com a trilha sonora dos filmes do Almodóvar. É um bolero bem triste é verdade, mas sempre me chamou a atenção porque sua letra é quase uma oração, uma suplica da pessoa amada que fica triste com a partida do seu amor. Também acho bonita porque passa uma mensagem positiva dessa pessoa que acredita que a morte não existe e que esse grande amor vai continuar um dia. “Por isso, eu te peço, por favor, Espera-me no céu”.


Espera-me no céu
Composição: Francisco Lopez Vidal

Espera-me no céu coração
Se é que se vai primeiro
Espera-me que pronto eu irei
Aí onde você estiver
Espera-me no céu coração
Se é que se vai primeiro
Espera-me no céu coração
Para começar de novo
Nosso amor é tão grande, e tão grande Que nunca termina.
E esta vida é tão curta e não basta Para nosso idílio
Por isso, eu te peço, por favor, Espera-me no céu.
E aí entre as nuvens de algodão Faremos nosso ninho

sexta-feira, maio 14, 2010

Minha sexta feira.

Sentado à Beira do Caminho


Eu não posso mais ficar aqui
A esperar!
Que um dia de repente
Você volte para mim...

Meu olhar se perde na poeira
Dessa estrada triste
Onde a tristeza
E a saudade de você
Ainda existe...

Esse sol que queima
No meu rosto
Um resto de esperança
De ao menos ver de perto
O seu olhar
Que eu trago na lembrança...

Vem a chuva, molha o meu rosto
E então eu choro tanto
Minhas lágrimas
E os pingos dessa chuva
Se confundem com o meu pranto..

Carros, caminhões, poeira
Estrada, tudo, tudo, tudo
Se confunde em minha mente
Minha sombra me acompanha
E vê que eu
Estou morrendo lentamente...

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo...

Composição: Roberto Carlos/Erasmo Carlos

quinta-feira, maio 13, 2010

Nossa Senhora de Fátima - 13 de maio


Nossa Senhora de Fátima é a designação pela qual é conhecida, na religião católica romana, a Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, pelos católicos ou outras pessoas que acreditam em sua aparição durante seis meses seguidos para três crianças em Fátima, localidade portuguesa, em 1917.

Três crianças, Lúcia de Jesus dos Santos (de 10 anos), Francisco Marto (de 9 anos) e Jacinta Marto (de 7 anos), afirmaram ter visto Nossa Senhora no dia 13 de Maio de 1917 quando apascentavam um pequeno rebanho. Segundo relatos posteriores aos acontecimentos, por volta do meio dia, depois de rezarem o terço, as crianças teriam visto uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir-se embora, mas, logo depois, outro clarão teria iluminado o espaço. Nessa altura, teriam visto, em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol".

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_de_F%C3%A1tima

Pois no nosso caso essa aparição foi de outra maneira, mas nem por isso menos surpreendente. Desciamos a Serra de Baturité quando numa das muitas curvas avistamos por entre as árvores uma enorme imagem de Nossa Senhora de Fátima. Foi mais um momento especial da viagem, só nosso, de rezar e agradecer. Ficamos sabendo que essa imagem foi inaugurada um ano antes, no dia 13 de maio de 2008 e é considerada a maior imagem de Nossa Senhora de Fátima do mundo. A estátua tem 15 metros de altura e foi feita pelo artista plástico Franciner Macário Diniz.

A libertação dos escravos - 13 de maio


Rio de Janeiro, 13 de maio de 1888. Cerca de 10 mil pessoas se aglomeram em volta do Paço, o palácio do governo na capital federal. É gente do povo, da alta sociedade e autoridades que aguardam a chegada da princesa Isabel para a assinatura da lei de número 3.353, a Lei Áurea, a mais comentada e festejada de toda a história do Brasil até aquela época. Ela encerrava quase quatro séculos de escravidão de negros no Brasil. Hoje, a Lei Áurea faz parte da história. Não é mais comemorada com a mesma alegria de antigamente, nem mesmo pelos negros, os principais beneficiados. Participantes do Movimento Negro no Brasil consideram que a lei foi apenas uma conquista na área jurídica, pois obrigou o fim da escravidão. Mas não houve conquista social: os negros permaneceram marginalizados na sociedade e até hoje lutam contra o preconceito.



Um fato curioso aconteceu nessa nossa última viagem pelo interior do Ceará que me remete a esse dia de hoje. Entre tantas cidades por onde passamos, uma nos chamou atenção pelo nome (Redenção) e pelo painel de uma negra liberta logo na entrada da cidade. Numa parada para comprar artesanato ficamos sabendo que o nome da cidade e o painel era uma homenagem à libertação dos escravos, fato pioneiro no Ceará e no Brasil. Não entendemos o porque do pioneirismo, nem sabiam nos explicar, então fomos parar no Museu Senzala Negro Liberto que está localizado bem na entrada do município. Um complexo composto pela casa grande, senzala e canavial. Este conjunto arquitetônico colonial é original e encontra-se em boas condições de conservação. Nessa visita fomos parar no lugar certo para sabermos o porque do pioneirismo. O marco histórico deste engenho é a concessão, em 25 de março de 1883, de alforria a todos os negros cativos, cinco anos antes da decretação da Lei Áurea pela Princesa Isabel. Olha que coisa bacana, conhecemos a primeira cidade do Brasil a abolir a escravidão. Um fato importante que nunca aprendemos em livro algum e foi por acaso que tomamos conhecimento desse ato de vanguarda do Estado do Ceará.

quarta-feira, maio 12, 2010

DIÁRIO DA ÚLTIMA VIAGEM JUNTOS


Terminamos nossa última viagem juntos como ela começou feliz e em paz. Talvez tenha sido a melhor viagem das nossas vidas. Todas foram lindas, alegres, cheias de lembranças e histórias marcantes, mas essa foi diferente, foi na sua maioria tudo decidido por nossa conta. Fizemos o trajeto de onde gostaríamos ir e na hora que queríamos. Não precisamos acordar cedo para nada, tudo foi no nosso tempo, na nossa vontade, tranquilamente. Escolhemos os melhores hotéis, os melhores restaurantes, os melhores passeios, sem culpa alguma. Não poupamos nada nessa viagem. Gastamos o que queríamos e podíamos. Hoje sei que foi a melhor coisa que fizemos. Mas se fosse preciso iriamos dormir no carro, comer em pensão ou em padarias se fosse isso que a cidade tinha a nos oferecer. Sempre estivemos prontos para qualquer adversidade com a mesma disposição e alegria. Curtíamos todos esses extremos. Parceria perfeita. Um companheiro da melhor qualidade, um amigo para qualquer momento, um amor..

Olhando para essa viagem através das fotos e das minhas lembranças, vejo que realmente foi uma despedida. Até mesmo uma despedida do Estado do Ceará, já que em 97 quando viajamos para o Nordeste pela primeira vez, foi para conhecer o Ceará. Só que dessa vez tínhamos que começar por uma benção do santo nordestino e terminar com o pôr do sol entrando no mar em Jericoacoara. Nunca repetimos tantos “Eu te amo” ou “como somos felizes” numa viagem. Nunca estivemos numa viagem com um clima tão forte de namoro ou de lua de mel. Tudo me parece agora como um ponto final. Tenho muitas cenas na cabeça dessa viagem, mas uma me chamou atenção. Como ele adorava o frio, em Guaramiranga lembro que acordou bem cedo para ver a cerração que fazia do lado de fora da pousada. Com a porta aberta, eu deitado na cama o via na varanda, sem camisa, parado olhando aquele nevoeiro como uma criança que se diverte tomando banho de chuva. Ele curtia uns momentos tão simples e singelos que me emocionava. Um cara sensível e cheio de amor para oferecer.

Tínhamos o hábito de brindar sempre, mesmo em casa e nessa viagem brindamos várias vezes à felicidade, mas dessa vez posso considerar esses brindes como uma despedida para esse ciclo de viagens juntos. Encerramos ali uma etapa de sonhos realizados, de momentos felizes. Um companheirão. Estou com muitas saudades desse companheiro, me faz muita falta nesses momentos difíceis que estou passando e por isso escrevi esse diário, para acalmar meu coração e poder viajar novamente com ele em pensamentos e nessas fotos. Vou te amar para sempre.

Do seu José Carlos

Chegando em Fortaleza

As férias do ano passado foram planejadas um ano antes. Foi a primeira vez que isso acontecia. Fazer isso não significa segurança de que tudo vá sair certo e perfeito, mas tem que se programar com certo tempo, isso é fato. Não deixar nada para última hora é a melhor solução, pois assim podemos conseguir bons voos e bons preços. E se a viagem for programada para a baixa temporada melhor ainda. Vi num site de viagens uma matéria sobre um Ceará que muitos desconhecem o Ceará do sertão e da serra. Procurar se informar sobre para onde deseja ir é outro dado importante para que nada saia errado com a sua viagem. E hoje em dia é a coisa mais fácil para se fazer. Temos condições de saber quais as roubadas que estamos nos metendo ou descobrindo as maravilhas de um lugar pouco explorado. E se a viagem não for dessas tradicionais, comprado por pacote com datas certas e horário fechado o melhor é se cercar de todas as informações possíveis para que tudo saia conforme o pensado. E foi assim que fizemos nas férias de 2009.

Um voo tranquilo e sem escalas nos proporcionou estar caminhando pela praia de Iracema às 11hs do dia 06 de maio de 2009. Deixamos as malas no hotel e fomos à busca de um bom restaurante para almoçar e brindar esse início de férias.

Para se fazer uma viagem que não seja o trivial, tem que estar preparado para aventuras, para sair da normalidade, estar preparado para a adversidade e curtir cada momento, não se irritar com coisas que possam dar errado porque tais lugares por não serem turísticos não há muita estrutura para receber um forasteiro. Então há que se estar preparado para o improviso. Não era o nosso caso, já que sempre fomos à busca desses lugares pouco divulgados, um Brasil realmente ainda pouco conhecido. Até nisso éramos parceiros. Viajar com o Eduardo era muito bom, topava tudo, sempre pronto a seguir em frente sem medo de nada. Um aventureiro.

Reservamos esse dia e o seguinte para rever Fortaleza já que havíamos estado por aqui no ano de 1997. Depois desse almoço fomos caminhar pelo comércio, indo até o mercado municipal. Se você é uma pessoa que gosta de artesanato local como o Eduardo então não deve deixar de ir passear num mercado municipal. Nesses lugares é onde há a maior concentração de lojinhas com esse tipo de mercadoria. Ali você deve estar preparado para a agitação, vendedores quase te puxando para dentro das lojas, estar pronto para pechinchar sempre e sorrir. Não adianta ficar irritado, pois todos estão ali trabalhando e os turistas são alvo para qualquer comerciante. Faça a sua parte, compre algo. Mas se vai ficar mais de um dia, deixe para fazer as compras no final, pois você pode acabar conseguindo melhores preços nos diversos lugares que vai conhecer. Melhor não arriscar comprando no primeiro dia.

Praia de Cumbuco

Nessa busca por reencontrar o passado de 1997 fomos a Cumbuco, uma praia a 30 km do centro de Fortaleza. Não tínhamos a mínima ideia de onde ficamos naquela época, mas com um mapa nas mãos fomos e escolhemos um restaurante a beira mar para passar o dia. Todos esses restaurantes tem infraestrutura suficiente para atender as necessidades de qualquer turista, com estacionamento, barracas com cadeiras e mesas a beira mar e garçons que te servem sem problema algum. Não ficam enchendo o saco o tempo todo perguntando se querem mais alguma coisa. Se você não chamar eles não vem. O único incomodo são os vendedores que passam a todo instante te oferecendo mil coisas. O melhor é abrir um sorriso, conversar, elogiar o trabalho e comprar se for o caso. Estamos de férias e eles trabalhando, vivendo do turismo. Então o melhor é relaxar. Olhar a natureza em volta, ver as velas das jangadas no mar e isso te dá certeza que você está fora da sua vida normal então o melhor a fazer é aproveitar. E foi assim que passamos esse dia, banhos de mar, muito sol, comendo, bebendo, descansando, nos divertindo. Edu não quis e ficou fotografando o meu divertido passeio de jangada.

Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero

Nossa viagem inusitada começa pela cidade de Juazeiro do Norte, terra do Padim Padre Cícero a mais religiosa das cidades cearenses. Apesar do nome, Juazeiro do Norte está situada bem ao sul do Estado, a aproximadamente 565 km de Fortaleza. É a segunda maior cidade do Ceará em capacidade econômica, e a maior do Estado (e uma das maiores do país) em religiosidade. Há aeroporto na cidade, e voos regulares. Esqueça o trânsito caótico das grandes cidades, porque nada se compara ao trânsito em Juazeiro. Do pequeno trajeto do aeroporto para o hotel que ficava no centro, dava para perceber a confusão da disputa nas ruas estreitas pelos carros de passeio, táxis, muitas motocicletas e bicicletas. Num primeiro momento chega a incomodar, mas depois você relaxa e acha até engraçado como eles se entendem naquela confusão toda. Nosso hotel tinha a vista para a famosa estátua do Padim Padre Cícero. Uma visão Emocionante. Resolvemos dar uma circulada ao redor para conhecer um pouco da cidade. E caminhando 100 m você percebe que não há um estabelecimento comercial ou residencial que não tenha uma imagem do santo na porta. É impressionante a devoção daquele povo que o considera um santo. Assistimos uma missa na Igreja de São Francisco, fizemos um lanche na rua, fomos a uma farmácia e voltamos para o hotel, pois não há vida noturna na cidade. Pelo menos na parte onde ficamos, por ser central, fecham-se as lojas e nada mais tem vida naquela parte. O tempo estava quente e ficamos admirando a lua cheia deitados na piscina. Depois de jantar no próprio hotel ficamos planejando o dia seguinte olhando ao longe o Santo no alto da colina, todo iluminado.

Já escaldados de como alugar um carro com segurança e bom preço, fizemos isso logo pela manhã e abandonamos o hotel rumo à estrada. Já na saída da cidade fomos à colina do Horto, onde fica o famoso monumento com 25 m de altura e é considerada a terceira maior estatua do mundo. E quando vamos nos aproximando a grandiosidade impressiona. Impressiona também a quantidade de devotos. E olha que nem era ainda o mês de romaria. Anualmente, em pelo menos quatro ocasiões, Juazeiro do Norte torna-se o centro da religiosidade popular. Ficamos a imaginar como deve ficar o lugar nesses dias de romaria. O sol estava digno do sertão nordestino, portanto, protetor solar sempre para aliviar a vermelhidão. E tendo um Eduardo por perto não há como esquecer esse precioso detalhe. Um peregrino que se prese não pode deixar de visitar o Museu Vivo da Cultura popular Nordestina, o Santo Sepulcro, a Muralha da Guerra de XIV e a Via Sacra. O Memorial do Padre Cícero abriga um acervo de fotos e objetos relativos à vida do padre. Ficamos ali por um bom tempo, mas eu ainda não estava satisfeito com as fotos tiradas. O sol nesse ponto não havia favorecido a melhor foto. Aproveitamos para rezar, pedir e agradecer. E trouxemos várias lembranças do Santo Nordestino, fitas, imagens, terços e orações. Pronto, depois registrar para sempre a melhor foto, de nós dois com o Padim, seguimos viagem.

Barbalha, um oásis no meio so sertão

Com um mapa nas mãos e um roteiro pré-definido você só tem que prestar atenção nas bifurcações para não entrar em lugares que possam tornar sua viagem mais longa. Em sua maioria estão completamente esburacadas, sendo um perigo para o viajante. Nossa próxima parada é Barbalha. Uma cidade do sertão cearense bem bonitinha parece cenário de filmes e novelas de época. Suas origens remontam ao início do Século XVIII. Um rápido city tour já se conhece toda essa pequenina cidade. Muito cuidado caso precise parar e tirar dúvidas com um nativo. Tenha certeza do que está procurando porque se faltar uma palavra no meio do que procura pode dificultar na ajuda. E saiba que você não está na sua terra natal, portanto, deve-se prestar bem atenção na resposta porque muitas vezes pode parecer que está em outro País, tamanho é a diferença do linguajar. E ai complica tudo porque você vai fazer cara de que entendeu tudo e na verdade não entendeu nada, como foi nosso caso quando paramos para perguntar sobre o Hotel das Fontes e todos conhecem o local como Balneário do Caldas. Um hotel de águas termais. Rimos cada vez que alguém respondia porque não entendíamos quase nada. Não havia uma reposta simples para uma simples pergunta onde fica. Havia uma dissertação tão grande que não entendíamos nada. Uma diversão à viagem inteira lembrando isso. E por pouco não chegamos com a noite o que com certeza dificultaria localizar o hotel que fica escondido no meio da mata. O silêncio é absurdo. Pouco tivemos que fazer além de conversar com os donos, jantar e ir para o quarto assistir a um filme. Para essas viagens fora do padrão turístico, vale a pena levar jogos, computador e filmes para passar o tempo. Edu adorava lugares assim, queria era descansar e foi o que fizemos.

Crato

A viagem era tranquila, não pela estrada que não são nada conservadas, pelo contrário, uma aventura prosseguir por elas. Principalmente porque o Ceará fora muito castigado pelas chuvas nos meses de março e abril. Nosso próximo destino era a cidade do Crato, uma pacata cidade situada na região do Cariri, mais precisamente ao sul do Ceará, ao sopé da Serra do Araripe. É a terra onde nasceu o Padim Padre Cicero. Fomos procurar um local para hospedagem. Eram 2 da tarde, e quando vimos estávamos subindo uma ladeira que dava num hotel bem interessante. Mas havia muitos carros em frente e um som animado vinha de dentro sinalizando que estava havendo uma grande festa. Viajar é sair da rotina, não se prender a relógios nem datas, portanto, custamos a perceber que era domingo do dia das mães. Estava tudo cheio, até mesmo um simpático bar mais a frente, com uma vista linda para a serra de Araripe. Um enorme paredão que chama atenção pela beleza da vegetação verdinha. Entramos e escolhemos nossa comida. Pois essas datas festivas são iguais em qualquer lugar. Há filas, impaciência dos clientes e atraso do estabelecimento. Mas nada abala um viajante. As horas devem passar lentamente mesmo, esse é o espirito das férias. Riamos das confusões ao redor bebendo nossa cerveja gelada já que o calor era intenso. Quando saímos dali a festa no Hotel Encosta na Serra já havia terminado e nos aventuramos a entrar. A simpatia do povo nordestino é um fato que não há como negar e a recepcionista além de nos ter dado um quarto ótimo de frente para a serra, acabamos ficando mais tempo que o programado, pois havia muito que se conhecer na região. Nesse papo com a recepcionista pegamos todas as dicas que não estão em livros e revista alguma. Aproveitamos a tranquilidade da piscina do hotel para programar o dia seguinte e admirar o belo por do sol na serra do Araripe. Essa recepcionista foi também nossa guia para uma city tour em cidades vizinhas. Seria folga dela e contratamos os seus serviços. E para nossa surpresa ela apareceu com um primo contando a seguinte história; que ele estava indo junto porque não ficava bem ela ir sozinha com dois homens, ela era casada e os colegas poderiam interpretar erradamente. Tivemos que achar graça da situação. Pois é, não devemos esquecer que estamos numa cidade interiorana e todo cuidado é pouco. É o tipo de história que ouvimos falar, mas não acreditamos que ainda exista.