domingo, maio 23, 2010

O Ressuscitado envia seu Espírito

Neste final de semana termina a comemoração do Divino Espirito Santo. Uma festa católica que pode ser encontrada em praticamente todas as regiões do país, apresentando características distintas em cada local, mas mantendo em comum elementos como a pomba branca. Essa festa tem como significado, receber o Divino Espirito Santo e suas bênçãos, distribuir esmolas e alimentos.

A origem remonta às celebrações religiosas realizadas em Portugal a partir do século XIV. Essas celebrações aconteciam cinquenta dias após a Páscoa, comemorando o dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu do céu sobre os apóstolos de Cristo e a Virgem Maria reunida no cenáculo (local da última ceia), marcando o nascimento da Igreja. Desde seus primórdios, os festejos do Divino, realizados na época das primeiras colheitas no calendário agrícola do hemisfério norte, são marcados pela esperança na chegada de uma nova era para o mundo dos homens, com igualdade, prosperidade e abundância para todos.

O símbolo da Festa do Divino é a mandala de fogo com a pomba branca ao centro. A pomba significa o próprio Divino Espírito Santo e a mandala de fogo o momento que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos. 


E como estamos na semana dessa festa, lembrei-me das vezes que a figura do Divino entrou em nossas vidas. Pode não representar nada mais do que uma simples peça de artesanato colocada na parede para decoração, mas curiosamente fomos atraídos pela figura do Espírito Santo em vários momentos da nossa vida por algum motivo.

 
Para começar, minha mãe passou a frequentar a Paróquia Nossa Senhora do Divino Amor desde que meu irmão se foi. A relação dela com essa igreja é muito forte porque foi ali que ela encontrou o conforto por essa perda. Nós entramos ali bem poucas vezes, mas Edu adorava a imagem dessa Nossa Senhora porque ela está segurando a pomba do divino. É uma imagem muito bonita e bem diferente. Edu ficava fascinado com a beleza dessa imagem. Ele tinha um olhar muito atento para as coisas belas, era muito observador. Nossa relação com essa igreja só viria a ser mais forte tempos depois e nem imaginávamos que seria do jeito que foi.

 
Em 2006 quando visitamos pela primeira vez a cidade do samba para tratar de assuntos da ala, na sala do carnavalesco tinha uma bela peça da pomba do Divino e mais uma vez aquilo deixou o Eduardo admirado com a riqueza dos detalhes talhados em isopor. Uma simples peça carnavalesca, mas uma grandiosa obra de arte. Por algum motivo àquela pomba atraia seu olhar, o deixando fascinado.

 
Já que o significado da festa é receber o Divino, quis o destino que as portas da nossa casa fossem abertas para receber o nosso primeiro Divino quando fomos presenteados pela nossa amiga Cássia. Edu ficou bastante feliz com o presente e logo tratou de arrumar um lugar na parede da sala de jantar. Encantou-se tanto com a imagem que aonde íamos ficava admirado sempre que via um. A chegada do segundo Divino foi por acaso. Estávamos passeando pelo Shopping Via Parque quando Edu avistou num cesto várias pombas do Divino feitas de madeira num quiosque de artesanato. Ele se encantava com a riqueza de detalhes daquele trabalho de madeira tão delicado que ficava por vários minutos escolhendo o mais perfeito entre tantas pombas. Analisava um por um calmamente até ter certeza de que o escolhido era o perfeito. Comprou a pomba e pendurou no final do corredor. Todos os trabalhos em madeira e feitos a mão tinha um valor imenso para ele. Nosso terceiro Divino ele conseguiu avistar também por acaso, no alto de uma parede cheia de objetos numa loja no Shopping Barra World. Lindo, perfeito e definitivo, pois esse tinha a pomba e a mandala. Uma peça única, de madeira, feita a mão por um artesão do interior de Minas Gerais. Apaixonou-se por essa obra. Fechamos facilmente o negócio com a Dn. da loja, o difícil foi levar aquela peça enorme para casa já que não estávamos de carro naquele dia. Felizmente era dividido em duas, então cada um trouxe uma parte. Eu a mandala e Edu a pomba. Estava feliz, parecia uma criança que havia ganhado um brinquedo que queria tanto. Edu não era materialista, ele gostava de admirar a beleza de um trabalho artesanal, e buscava sempre escolher um lugar de destaque para valorizar ainda mais a peça e decorar a casa. E fazia isso com uma perfeição imensa, tamanho o seu bom gosto. E foi assim com esse Divino, escolheu um lugar de destaque na casa e lá está, para sempre me trazendo muita paz quando olho para ele. Cada peça comprada por ele tem muito do seu jeito, do seu estilo, mas esse Divino é realmente a maior peça comprada para o apartamento, vale pela beleza, mas também pelo esforço e a vontade de querer aquela pomba bem ali no centro daquela parede. Não há como passar por ali sem perder alguns segundos para admirar sua beleza. É hipnotizante.

Pois bem, voltamos a Paróquia Nossa Senhora do Divino Amor, dois dias antes da cirurgia do Eduardo em dezembro. Minha mãe queria muito que ele fosse assistir uma missa lá e foi isso que fizemos. Tentávamos disfarçar o nervosismo com a proximidade da cirurgia, eu mais do que ele. Cheguei a perguntar se estava nervoso e me respondeu com sua firmeza de sempre que não. Tinha medo do que viria depois, completou. O médico nessa hora falava mais alto e isso me assustava. E foi assim, com o coração apertado que assistimos a missa, tentando absorver as palavras do Padre Rogério. Ao final da missa minha mãe nos levou a sacristia para falar com o padre. Explicou o que Edu tinha e o padre Rogério pegou um óleo e se preparou para dar a ele uma unção. Nesse momento nos explicou o que seria uma unção. Estava emocionado demais para ficar ali e sai, mas pude ouvir sua explicação que Unção é o poder de Deus, na vida de uma pessoa, para que ela possa: curar, libertar e abençoar as pessoas necessitadas. Não tem nada a ver com extrema-unção. Fiquei sabendo pela minha mãe que Edu chorou todo o momento que o padre rezava e o ungia com o óleo. Sou um fraco e nunca perguntei o motivo desse choro, mas minha mãe acha que se emocionou com as palavras do Padre. Prefiro a sabedoria dela a pensar besteiras. Resolvi ficar ao lado do altar chorando e rezando para a Santa que ele tanto admirava. Fiquei feliz em ter aprendido que Unção é mais forte que a benção e foi acreditando nessa força que fomos vencendo algumas etapas enquanto tínhamos forças.

Somente agora percebo que não foi por acaso que abrimos a porta e o coração para o Divino entrar. Ele precisava nos acompanhar de perto, segurar em nossas mãos e nos abençoar. Ele não só nos visitou, ele veio para ficar, não só nas paredes, mas em nossos corações e nossas vidas.



Nenhum comentário: