quarta-feira, julho 07, 2010

A mesa ao lado


Houve um tempo que quando íamos a algum restaurante e percebíamos que na mesa ao lado havia uma pessoa sozinha, ficávamos conversando sobre o motivo que levava uma pessoa estar num local que se presume ser de diversão, de conversas. O bom de ir a um restaurante é justamente isso, ter o prazer de beber, comer e no meio dessas duas coisas conversarem sobre a vida, rir, dizer besteiras, resolver os problemas do mundo, enfim, divertir-se. A mesma coisa penso sobre ir ao cinema. Ir sozinho não dá. Pelo menos não pra mim, não há coisa melhor do que sair comentando sobre o filme. Até mesmo para dizer que foi uma droga. Qual a graça de fazer esses programas só? Como eu sempre estive muito bem acompanhado nesses programas todos sentia pena e não entendia esses solitários.

Eu e Edu algumas vezes fazíamos uma brincadeira que era de tentar adivinhar o motivo que levou aquela pessoa estar ali sozinho. Virava uma distração criar estórias para aquela situação. Algumas vezes a maluquice chegava a tal ponto que dávamos nome ao personagem. Mas o interessante nessas palhaçadas toda é que nunca nos passava pela cabeça que aquela pessoa estivesse ali triste por um luto, e que sua presença naquele local era apenas uma tentativa de recomeçar uma vida. A fantasia criada sempre girava em torno de separações e brigas.

Pois agora eu sou essa pessoa da mesa ao lado. Tenho tentado fazer coisas sozinho, já fui ao cinema duas vezes e posso garantir que não há coisa mais triste que ao sair do cinema, querer comer algo e sentar num restaurante sozinho. Mesmo sendo falastrão como sou, o sair do cinema e não ter com quem comentar foi até fácil, mas enfrentar o restaurante não foi nada agradável. Não é prazeroso. Falta alguma coisa. Pedir uma bebida e ficar esperando o prato é muito deprimente. Beber sozinho já é ruim, ainda mais sentado numa mesa de restaurante. A vontade que dá é pedir o prato mais simples, comer rapidamente e sair fora. Olho pro lado e agora vejo grupo de pessoas rindo, se divertindo e penso que talvez algum maluco ali dentro deve estar me analisando também. Minha vontade é de tomar mais uns goles e acabar com a brincadeira gritando para todo mundo que o motivo de estar ali sozinho é porque agora sou viúvo, e recente, de um casamento que ainda se tinha muito amor. E entrei ali não só porque estava com fome, mas porque quero saber oque posso fazer sozinho sem me sentir solitário. E comprovadamente comer sozinho em restaurante não dá. Melhor ir num fast food que vale mais a pena.

Não sei se vou perder essa mania de observador só porque agora passei para a mesa ao lado, mas com certeza vou incluir nas minhas invenções a morte de uma pessoa muito querida quando vir uma pessoa sozinha em lugares cheios de gente.

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