segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Assistindo aos desfiles pela primeira vez


Cresci ouvindo histórias dos meus pais sobre os desfiles das escolas de samba que eles iam assistir todos os anos. E da alegria e euforia quando começaram a assistir de dentro da pista de desfiles depois de uma confusão nas arquibancadas que os forçou a pular para a pista. Gostaram tanto da proximidade com a escola que a partir desse ano passaram a fazer mil artimanhas para poderem ficar na pista. E eram tantas situações que passavam para realizar esse desejo que muitas vezes eu mesmo desconfiava das histórias contadas, mas finalmente quando fiz 15 anos pude comprovar a veracidade de tudo que contavam. Fui assistir pela primeira vez com eles e depois de inventar que estavam importunando minha mãe nas arquibancadas, pulamos para dentro da pista com o auxilio de um dinheirinho para os fiscais. Depois do nervosismo inicial, achando que tínhamos cometido o maior dos crimes, procuramos um lugar não tão visado assim e finalmente pude relaxar e admirar o belo espetáculo que se passava na minha frente. Fiquei maravilhado com a proximidade das pessoas fantasiadas, das alegorias, dos artistas, da decoração, enfim, tudo. Uma emoção maravilhosa. Vi pela primeira vez um desfile da minha escola, cantando “Brasil, Berço dos Imigrantes” na voz do saudoso Roberto Ribeiro. Já era dia quando o Império entrou e fiquei emocionado. Nunca vou esquecer esse dia, pois tenho certeza que foi a partir daí que o vírus do carnaval me invadiu por completo.

Resolvi que ia fazer como meus pais e assistir aos desfiles todos os anos. Na verdade combinamos eu, meu irmão e minha prima Magali. Só que para se comprar ingressos naquele tempo não era nada fácil. Era vendido nas bilheterias no maracanã e formavam-se filas imensas já na madrugada. E lá fomos nós com cadeiras de praia, biscoitos e água. Mas infelizmente a desorganização era de dar arrepios e quando o dia amanheceu já não havia fila alguma. Era uma multidão aglomerada tentando entrar no curral das bilheterias. Uma verdadeira torre de babel, um empurra empurra sem fim. As rádios anunciavam essa confusão e minha mãe partiu para lá para tentar nos resgatar. Nem mesmo a policia conseguia por ordem naquele tumulto. Meu irmão e Magali desistiram, eu me mantive firme e me aproximava cada vez mais da bilheteria, mas minha mãe conseguiu me localizar e me retirou da fila com medo de ser pisoteado já que a situação se agravava a cada instante. Uma frustração imensa, uma tristeza e um cansaço.

No ano seguinte mais uma tentativa, só que comprei arquibancadas de turistas, eram mais caras, mas também era fácil de comprar, e tinham lugar marcado. E assim fui sozinho assistir aos desfiles. Não tinha o mesmo glamour de assistir da pista, mas mesmo assim me sentia feliz por estar vendo todas as escolas. E precisava registrar aquele momento, por isso levei minha máquina xereta com vários filmes de 36 poses. Não me importava nem um pouco se a foto iria sair distante já que não havia zoom, nem flash. Técnica era o que menos importava naquele dia, somente a emoção. O importante é que eu estava feliz e queria muito registrar essa noite incrível que estava vivendo, ainda mais sozinho sem meus pais por perto. Se não fosse pela minha máquina xereta da Kodak eu não teria como comprovar que estive assistindo ao carnaval de 1980, um carnaval marcante na minha vida de adulto.



Um comentário:

deissinha disse...

Oie Ze Carlos.

como as fantasias eram diferentes sem vida.O que eu mais gostei foram aquelas mulheres dançando sentadas na alegoria.

Beijos