Começamos a freqüentar a quadra do Império Serrano no ano de 1980, mas somente em 1982 resolvemos desfilar. Não tínhamos a mínima noção como proceder. Na quadra havia uma faixa com o telefone de uma presidente de ala e assim fomos para o morro do Cajueiro onde eram feitas as roupas. Acertamos o pagamento e ai foi só esperar pelo grande dia. O enredo falava sobre as transformações que as escolas de samba atravessavam e era o samba mais cantado na época, mas como a escola vinha de uma péssima colocação no ano anterior, ninguém a considerava favorita ao título. Como sempre, o Império estava desacreditado.
Quando pegamos a roupa já foi uma sensação de euforia incrível. Senti-me a pessoa mais importante do mundo porque ia fazer parte dessa festa grandiosa que é o carnaval. A alegria era enorme, e olha que a roupa nem era tão bonita. Íamos representar os africanos, uma brincadeira com a fantasia que Joãozinho trinta havia eternizado na Beija Flor.
Era uma época que as escolas não tinham horário certo para entrar na avenida nem tempo para desfilar, por isso havia atrasos imensos. O Império seria a ultima escola, mas bastante ansiosos fomos de madrugada para a concentração e sentir esse clima bem de perto. Não dava para disfarçar o nervosismo. Mesmo tendo 18 anos, fomos acompanhados pela minha mãe e minha avó por que concentração de escolas de samba era vista como local de drogados. Estávamos felizes da vida, o coração parecia saltar pela boca. Uma sensação indescritível aquele ambiente onde ficávamos admirando as fantasias das outras alas, as alegorias, tudo nos chamava atenção, mal dava para acreditar que estávamos ali fazendo parte do enredo que a escola iria contar na avenida. Um sonho que enfim ia ser realizado. Nem mesmo a demora nos deixou chateados. E foi tanta que o dia clareou, e a escola entrou na avenida com um sol de meio dia na cabeça dos componentes.
Mas nem mesmo essa situação diminuiu o entusiasmo da escola, pelo contrário, só deu mais garra para cantar o famoso samba “Bum bum paticumbum prugurundum” que além de bonito tinha um refrão que envolveu a todos. Um verdadeiro sacode que nos consagrou como campeões do carnaval. Uma vitória muito marcante para quem pisava pela primeira vez na avenida. Fomos pé quente. Uma sensação que não dá para explicar, só mesmo quem veste uma fantasia, vibra com a queima de fogos, sente o coração acelerar quando a bateria toca, sabe como é.

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