quarta-feira, março 03, 2010

Um mês hoje


Hoje está fazendo um mês que o Eduardo nos deixou. Alterno bons e maus dias, hoje especialmente estou num mau dia. Até para levantar da cama foi um peso. Tentei resolver algumas coisas por telefone e foi a única coisa que fiz. Não tenho forças para mais nada. Liguei o computador para me distrair com as fotos. No momento a única coisa que consigo me concentrar. Não leio porque parece que as palavras entram e saem, não me fixo no que estou lendo, não vejo tv porque certas noticias que deixam triste, filmes também não consigo porque me faz lembrar que assistimos junto ou porque me comove, música nem pensar porque também de deixam triste e me fazem lembrar de alguns momentos. Não estou conseguindo pensar no futuro, penso somente no hj, no agora especificamente. Durante uma conversa dentro do carro, qdosabíamos que estava com câncer, disse que se pudesse trocaria de lugar com ele. Disse isso com a alma, disse porque o admirava, tinha orgulho dele, e não gostaria que ele sofresse um milímetro que fosse. Tanto que a vida toda procurei sempre dar a ele isso, felicidade, alegria, amor. Ele me respondeu que trocaria porque eu era mais forte que ele. Caralho, eu não sou mais forte nada. Nem quero ser! Sou fraco sim e muito medroso. Juntos nós éramos uma fortaleza, éramos de pedra, enfrentavámos tudo que vinha pela frente. Mas sozinhos não somos nada, por isso fiquei ao seu lado a todo momento, não queria que ele desistisse e sei que se foi até onde foi, foi por minha causa. Ele foi mais forte que eu sim, ele aguentou valente tudo com sua dignidade e integridade de sempre. Meu guerreiro! Sei que vc foi forte pra caramba, eu vi, estive ao seu lado, te fazendo carinho, te beijando, repetindo mil vezes que o amava assim como ouvi de vc que me amava. Rezamos juntos as noites onde só estávamos nós naquele terrível quarto, mas acho que os Santos não quiseram nos ouvir. Ou pelo menos a mim não quis ouvir. Disse que talvez não fosse merecedor do que pedia mas haviam pessoas que rezavam também e eu tinha certeza que eram merecedores dessa graça, como sua mãe, minha mãe, meu pai, o pai dele, pessoas puras. Mas mesmo assim não fui ouvido. Estou revoltado ainda, revoltado com Deus, com os médicos, com tudo que aconteceu. Que me perdoem todos. NO momento só tenho vontade de gritar e de falar nele, por isso procurei ajuda de um terapeuta, acho que os amigos já estão ficando de saco cheio de só ter uma conversa, de só querer falar nele. No momento não estou sendo uma boa companhia. Não sou forte, sou fraco e precisando de ajuda. Sou ansioso demais, acho que esse meu defeito vai me fazer ir a loucura porque desejo muito que o ano acabe, que eu melhore, que eu receba minha vida de volta. Não me reconheço. A terapeuta me disse que eu no momento sou um quebra cabeças desmontado. Pois é assim que me sinto, um quebra cabeças desmontado. As peças não se encaixam. Ando desgostoso e desleixado, não quero me arrumar, quero ficar deitado olhando o teto, as vezes tenho vontade de sair mas acabo desistindo. Não estou sofrendo mais que os outros nem quero ser um pobre coitado. Só não estou conseguindo administrar essa falta, essa dor. Cada um é de um jeito, eu achava que fosse forte, sempre disse palavras de força e de consolo para os amigos mas agora vejo que as palavras que tanto repeti para quem precisasse, não estão tendo o mesmo efeito comigo. Preciso comprar alguns medicamentos, ânimo por exemplo. Alegria poderia ser dada em doses homeopáticas, mas força tem que ser uma injeção daquelas fortes, 3 x ao dia. Não tenho receita para melhorar, quando encontrar, aviso.

5 comentários:

José Carlos Albernaz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Para Sartre, a morte tira todo o significado da vida, pois a morte é a certeza de que o nada nos espera.Já para Heidegger é justamente o contrário: é a morte que dá sentido à vida.E eu que sou como Alberto Caeiro e não tenho mais filosofia:só sentidos,não penso e não quero mais pensar.Contudo,creio que a vida só vale se a gente amou e foi amado.
Morrer é fato.Não há como fugir da consciência de nossa finitude.Nascemos sabendo onde o destino vai desembocar.Porém, se aceitarmos o convite para sairmos de nós mesmos, exerceremos o amor em sua plenitude e conquistaremos a nossa maturidade.
Nesse sentido, a vida ganha outra dimensão e sobrevive para além da morte à medida que a nossa partida resiste até a nossa própria ausência, especialmente, para aqueles com quem criamos um vínculo de amor verdadeiro.
Acima de tudo, apenas nós mesmos podemos dar sentido à nossa existência.Dessa forma, devemos viver da melhor maneira possível, sem jamais nos esquecermos de que as nossas atitudes morrem conosco, mas não morrem na memória alheia.

José Carlos Albernaz disse...

Valeu Claudinha, lindo! Bjs

Anônimo disse...

Força Zé Carlos! :P

Unknown disse...

A saudade realmente é uma dor sem definição... Impossível tentar traduzir uma perda dessa... Edu era capaz de expressar com suas atitudes todo afeto que sentia, e compartilhar das alegrias e tristezas dos amigos de seu jeito silencioso e calmo, mas tão pleno e envolvente que dispensava palavras. Zeca, tenha certeza que a sua força está aí (sim, você é muito forte!) mantendo você de pé e imortalizando as lembranças mais preciosas da vida do Eduardo.