quarta-feira, março 24, 2010

NINO

No ano de 1996 na casa de um criador de Boxer da Cidade de Deus, uma cadela começava a entrar em trabalho de parto. Acostumada a ficar no terraço da casa, é tirada de lá pelo seu dono para que ele possa observar o nascimento dos filhotes. Isso aconteceu no dia 23 de março, todos os filhotes nascem, mas somente um nasce com manchas pelo corpo e no olho. Na visão desse criador esse cão não teria valor comercial nenhum. A Cadela acostumada ao terraço, pega um a um dos filhotes com a boca e faz esse trajeto de volta para onde se sentia melhor. Por um descuido qualquer ela deixa um dos filhotes cair dessa escada e justamente o manchadinho.
Ficamos sabendo dessa história pelo próprio criador, que vai parar na Clínica Cara de Bicho, para saber se tinham como curar o pequeno filhote, já que tinha um hematoma na cabeça e outros problemas de locomoção. O Criador vendo que não poderia lucrar com esse cão, ainda mais acidentado, decide abandonar esse pequeno indefeso na clínica. Não ia gastar dinheiro com um cão que não lhe daria retorno. E pelas mãos do Dr. Eduardo e da Dra. Carmem esse animal que apresentava problemas sérios, começava a reagir e a mostrar sinais que queria viver. Eles dois tinham consciência que ele poderia morrer, mas estudaram, se informaram e com todo carinho lutaram para que esse cão sobrevivesse. Foi um esforço de todos. Eles cuidaram de cada um dos problemas que o cão tinha, a pelagem em determinadas parte não nascia, o estrabismo, a coordenação motora e o hematoma. Fortalecido, precisava agora de um lar. Todos que iam à clínica viam esse pequeno cão por lá, o achavam lindo, sabiam da sua história, mas não se sensibilizavam para leva-lo. Comovido e acompanhando o seu drama desde o inicio, já que o Edu o levava para o nosso apartamento e cuidava dele no final de semana, fui convencido por ele para levá-lo. Depois de 16 anos voltava a ter um cão de estimação, só que agora com muito mais cuidado e preparo já que tinha toda a ajuda de um Veterinário por perto. Foi uma felicidade quando ele chegou bem no dia das mães. Um presente que o Eduardo me deu e nunca deixou de cuidar.
Demos o nome de Nino. Ele crescia forte e aparentemente sadio. Tinha ainda dificuldades na coordenação motora e não latia. Ficamos emocionados quando no primeiro banho ele latiu fino por várias vezes. Pronto, havia superado todas as sequelas que aquela queda lhe proporcionou. Pelo menos achávamos isso, mas tempos depois foi diagnosticada uma epilepsia, provavelmente daquele hematoma na cabeça. Na primeira crise nos assustamos, ele tremia todo, mordia a língua e saia muito sangue. E quando isso acontecia só mesmo o bisturi elétrico do Dr. Eduardo para cicatrizar porque não conseguíamos nem com gelo nem com água gelada. Edu sempre nos socorria nessas e em todas as horas. Passou a tomar gardenal e hidantal. No começo era somente um teste de quanto de medicamento necessitava tomar para controlar as convulsões porque não sabia a extensão da lesão e enquanto isso presenciamos muitas crises. As doses foram aumentando até que se chegou a uma adequada. Edu passou a ler tudo sobre epilepsia canina, se informava com outros profissionais, comprou livros, lia e depois me repassava. Passamos a conviver com um cão epilético e com um maior conhecimento pudemos amenizar suas crises e adequar tudo para o bem estar dele quando acontecia. Nino foi um cão feliz por 8 anos. E iluminou nossas vidas por todos eles. Era alegre e adorava correr pelo quintal. Era um pouco desengonçado é verdade, tinha limitações, mas era o nosso cão e achávamos graça em tudo que ele fazia. Até em dormir demais já que os medicamentos provocava sonolência.
Com o passar dos anos Nino foi apresentando outros problemas e Edu conversava comigo que devido à quantidade de medicamentos que ele tomava, com certeza iria apresentar outros. E assim foi. Morreu no sofá da sala comigo, minha mãe e o Eduardo do outro lado do telefone tentando nos acalmar e a dizer o pouco que poderíamos fazer. O dia amanheceu e Edu passou para buscar o corpo para cremar. Triste dia 30 de setembro de 2004.

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