No final dos anos 80 conheci dois divertidos baianos que estavam passando um feriado prolongado no Rio. Chamavam-se Berg e Lula. Foi uma amizade tão forte que meses depois estava eu indo de férias ao encontro deles em Salvador. Isso em janeiro de 1991. Fiquei hospedado na casa do Berg e alguns dias na casa do Lula. Levaram-me para conhecer todos os pontos turísticos de Salvador, e cada dia um amigo se dispunha a me levar para um lugar diferente. Com Lula passei não só à tarde em Itapuã, mas o dia todo, assim como me levou para conhecer a Ilha de Itaparica. Com Antonio Henrique conheci todas as igrejas, o farol e a cidade. Com Berg conheci as praias e fui a um ensaio do Olodum à noite no Pelourinho. Impossível não se apaixonar pelos cantos dessa cidade. Salvador é linda, ainda mais sendo apresentado pelos seus apaixonados moradores, ai tudo fica perfeito.
E nossa amizade se fortaleceu daí em diante e mesmo morando em Estados distantes, sempre nos comunicávamos, nunca perdemos o contato. Uma relação que começou despretensiosamente e por fim virou uma forte amizade, cheia de carinho e confiança. Receberam-me em suas casas me conhecendo tão pouco e pude retribuir essa confiança e esse carinho quando o Berg, tempo depois veio e ficou na casa dos meus pais. Conheceu meu irmão e essa afinidade também se estendeu a ele. A última vez que nos encontramos foi em 2000. Estávamos de passagem por Ilhéus e por uma coincidência incrível, Berg que havia se tornado oftalmologista clinicava na cidade, bem próximo à pousada. Foi um belo reencontro, já maduros e com tantas coisas para relembrar e novidades para contar. Embora eu e Berg tivéssemos mais afinidades no início da amizade, foi com Lula que tive mais contato durante esses anos todos.
Lula se tornou um anestesista importante em Salvador e vem ao Rio com muita mais frequência que os outros amigos baianos. Devido a isso nossa amizade sempre se renovava. Nunca deixamos de nos encontrar nessas suas visitas por aqui. Nessas vindas ao Rio, passou um Natal conosco em Vaz Lobo e conheceu nosso apartamento no recreio. Mas na maioria das vezes ficava hospedado em Copacabana pela facilidade de estar próximo de tudo. Pela sua história de vida, pela dificuldade de locomoção, Lula poderia ser uma pessoa triste e amargurada, mas pelo contrário, é um cara alegre, super divertido e realizado. Nunca o vi se lamentando. É um otimista por natureza e um vencedor.
Quando conheceu o Eduardo, foi mais um que se encantou pelo seu jeito e gostava de me provocar ciúmes. Edu adorava ser paparicado por aquele gozador. Preferia o apoio do Eduardo para andar, enquanto eu ia atrás. Adorava me provocar e essas piadinhas entre nós dois acabava virando uma grande brincadeira. Lula tem uma gargalhada imensa, que contagia. Seu alto astral é tanto que quando saíamos era ele quem nos chamava a atenção para estacionar nas vagas para deficientes. Como era engraçado o seu jeito de falar, sem peso ou incomodo sobre essa condição. Um cara realmente especial, um exemplo. Por isso prezamos muito a sua amizade por esses anos todos.
Voltei a Salvador em 2000 com o Eduardo e ficamos hospedados no apartamento do Lula. Retribuição de carinho de uma pessoa tão gentil como esse baiano de riso frouxo. E pude mostrar para o Eduardo toda a cidade que conheci por causa desses amigos. Salvador continuava linda e moderna, pelo menos para quem vem de visita.
Nosso último encontro foi em junho de 2007 quando passou seu aniversário aqui no Rio. Lembro que compramos de presente um porta retrato para colocar uma foto que tínhamos dos três juntos. Lula ficou bem emocionado e aquela tarde de sábado como sempre, foi mais um dia alegre e feliz. Fomos para Niterói conhecer o Museu de Arte Contemporânea e almoçamos por lá mesmo. Todo o museu e a vista em volta dele são belíssimos. E o sol daquele sábado ajudava ainda mais a compor aquela paisagem. Anoiteceu e a visão daquele museu ficou ainda mais esplendorosa. Aquele sábado não poderia ter sido mais perfeito, uma celebração especial para um amigo tão querido. Desde que o conheci nunca deixei de ligar para ele nesta data. Esse ano vou fazer diferente. Os parabéns vão ser por essa mensagem no blog. Não tenho coragem de ligar para felicitá-lo porque não sei se ele sabe que seu querido amigo faleceu. Espero que ele leia e saiba o quanto sempre foi querido por nós e continuará sendo para mim. Feliz aniversário meu amigo Lula Laranjeiras.
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