Hoje faria 20 anos que conheci o Eduardo dançando na Boate Gaivotas, na Barra da Tijuca. Pena que ela deixou de existir faz tempo, pois eu gostava de ir lá os sábados para me distrair, relaxar, principalmente depois que meu irmão adoeceu. A música alta na pista de dança não me permitia ficar triste. Passava ali algumas horas onde o mundo lá fora não existia, não havia problemas e nada de ruim acontecia.
Aquele sábado começou cheio de atividades; lembro que fui para casa do meu amigo Rodrigo para podermos ir ao cinema. Dali fomos lanchar e fazer hora para não chegar cedo à boate. Rodrigo era um cara engraçado, espirituoso, alegre, pena que a vida foi nos afastando e nunca mais soube dele. Acho que sua função na minha vida nessa encarnação era me apontar àquele que modificaria minha vida para sempre.
Chegamos à boate, pegamos nossas bebidas e fomos para a pista, dançar. Eu só queria esquecer a tristeza que minha vida estava, mas o Rodrigo queria mais. Queria arrumar uma companhia para beijar. Quando ele ia à caça e me deixava sozinho na pista, eu ia me sentar num banco que ficava ao lado de fora. Num determinado instante ele me apareceu todo ouriçado para me levar para pista para que eu desse opinião sobre um carinha que estava dançando todo esquisito. Nunca havia me pedido opinião sobre qualquer outro, porque aquele?
Esse momento não esqueço nunca. Apontou-me um cara de calça jeans e blusa verde dançando sozinho. O que para o Rodrigo era dançar esquisito, eu achei charmoso. Tinha que ser, tinha que acontecer. Naquele instante algo estranho aconteceu dentro de mim, meu coração começou a bater acelerado e eu não conseguia tirar os olhos daquele cara. A única certeza que tive naquele momento era que eu havia gostado dele. Rodrigo saiu para buscar outra bebida e foi se atracar com outro cara.
Talvez eu esbarrasse com o Eduardo lá dentro em outro momento. Mas quero crer que eu já havia esbarrado com ele e não o tinha visto. Não tinha ido ali naquela noite para arrumar ninguém, nem tinha cabeça para isso. Precisou da intervenção de um bom anjo para intuir sobre o Rodrigo para que ele me apontasse àquele cara que faria toda a diferença na minha vida nessa encarnação, já que em outras não tenho dúvidas. E aquele era o momento que eu precisava de alguém especial, alguém que pudesse me dar muita alegria e me fortalecesse sobre o que de ruim estava por vir.
Do apontar até acontecer algo durou mais ou menos uma hora. Eu voltei a sentar no meu banquinho pensando em como chegar naquele cara. Enquanto eu pensava, nem reparei que ao meu lado estava o cara da camisa verde. Fiquei nervoso, mas saiu um: “Oi, tudo bem?” com uma rapidez imensa. Era a minha chance, não podia desperdiçá-la e bastou esse cumprimento para emendarmos um assunto atrás do outro. Parecia que já nos conhecíamos e precisávamos contar tudo que havíamos feito nesse tempo que estivemos afastados.
Não voltei com o Rodrigo, queríamos tanto continuar conversando que fomos para um quiosque na beira da praia. Edu me deu carona até Madureira, pois eu menti dizendo que morava neste bairro. Fiz isso porque me preocupei por talvez não saber sair de Vaz lobo aquela hora da noite já que ele só conhecia um caminho para ir para Nova Iguaçu, indo por Deodoro e Madureira facilitava para ele. Essa mentira me gerou um apelido que até hoje sou chamado pelos seus tios e primos: Madureira. Na semana seguinte eu já havia contado que morava em Vaz Lobo e rimos muito disso.
A partir desse 14 de setembro de 1991, nunca mais nos separamos, nunca mais nossas vidas foi à mesma, Graças a Deus. Tudo que eu sempre tive vontade de dizer ao Eduardo eu disse em vida. Eu nunca me cansei de dizer sobre o quanto era importante na minha vida, do imenso amor que sentia por ele, do quanto me enchia de felicidade, da paz que proporcionava, do orgulho que eu tinha da maneira como tratava sua profissão, da sua generosidade, do seu carinho, da educação, da inteligência e de tantas outras coisas que aprendia com ele. Obrigado por te amar e me sentir amado.