segunda-feira, março 26, 2012

Visita II

No meio dos preparativos do carnaval uma visita inesperada surgiu: Eva e Jorge. Uma amizade de muitos anos e é sempre uma alegria vê-los. Continuam a mesma pessoa, tanto na aparência quanto no jeito. Tenho muitas lembranças de quando ela ajudava minha mãe com as coisas da casa. A mais marcante é vê-la passando roupa na cozinha quando eu chegava da escola para almoçar. Sempre risonha e com uma história engraçada para contar. Aliás, muitas histórias. E mesmo que não fosse engraçado, o jeito que ela contava já dava graça. Casada com o Jorge, tiveram cinco filhos e todos começam com a letra J e com muita dificuldade essa pequenina mulher criou e educou esses filhos como uma guerreira.
Veio nos contar que estavam partindo para Carangola, retornando para sua cidade Natal e em definitivo. Ela se acidentou e está andando de bengala temporariamente e resolveram que a recuperação seria melhor lá. Era uma despedida e não queria ir embora sem falar com seus compadres e agradecer o tanto que fizeram por eles. Mesmo trabalhando nas fantasias, tanto a Márcia e a Solange estavam atentas a tantas histórias que aquela mulher contava. Fiz um breve resumo dessa mulher que nunca se abateu com nada de ruim que lhe aconteceu. Aproveitei para contar uma de suas histórias que ficou marcado na minha memória.
 Eva nunca teve problemas de falar qualquer coisa, mesmo que pudesse ridicularizá-la, ela mesma ria da situação. Uma sábia. Numa de suas vindas para minha casa, resolveu usar um sutiã com enchimento para valorizar a blusa que minha mãe havia lhe dado já que tinha poucos seios. O tal sutiã ficou meio que sem recheio para segurá-lo no local devido. Na pressa em pegar o ônibus, ficou nos últimos degraus e atrás dela ainda entraram outras pessoas. Todas tentando se agarrar no ferro para se equilibrarem e nessas passadas de mão pra cá mão pra lá, um dos passageiros acabou segurando-a pelo peito, já que ela era bem baixinha. Isso fez com que o sutiã fosse subindo até a gola, saindo do seu lugar já que não tinha sustentação alguma. Ela sem ter como ajeitar, ficou com aqueles bojos ocos quase no pescoço, como ela mesma contou, quase viraram um par de óculos.
Quanto mais lembro esse fato mais vontade de rir eu tenho, não só porque é fácil visualizar a cena, mas porque me lembro dela contando isso às gargalhadas. A Eva é realmente uma mulher especial, não só pelo seu bom humor, pela simplicidade, mas ela é de uma disposição impressionante. Essa mulher fez muitas coisas para poder dar um estudo para os filhos, dar comida, vestimenta. Passou por situações muito difíceis, mas eu nunca a vi contando isso como lamentação ou tristeza. Aliás, nunca a vi sem um sorriso no rosto. Ela sempre foi de arregaçar as mangas e lutar. E olha que ela lutou muito. Uma pessoa de muita fé e somente nessa visita fiquei sabendo que ela é espírita. Pois é, não tenho dúvidas que ela é especial e que será sempre iluminada. Que eles possam encontrar tudo que esperam nesse retorno a Carangola depois de tantos anos morando aqui no Rio. Felicidades Eva!


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