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Sou o primeiro neto pelo lado da família da minha mãe, logo, minha vó sempre a segunda mãe. Em todos os sentidos a Vó Zilah fazia tudo que minha mãe fazia, ou seria o contrário, minha mãe é que repetia atitudes que aprendeu com ela. Não importa. Bastava minha mãe solicitar que lá estávamos nós pronto para obedecê-la. Sou de um tempo que se obedecia e respeitava os mais velhos.
Colocava nossa comida, nos informava a hora para ir para a escola, ficava em casa tomando conta da gente, enfim, dispendia seu tempo para ficar ao nosso lado. A proximidade das casas facilitava. Não fomos crianças de dar trabalho, pelo menos naquela época não havia essa agitação que de uns tempos para cá as crianças tem. Era uma rotina sem grandes turbulências, o que facilitava e muito o seu trabalho. Eu sempre fui mais calmo que meu irmão, que vez por outra aprontava alguma. Ele sempre conseguia tirar alguém do sério. E para tirar a vovó do sério era preciso realmente algo muito grave. Mas Vó tem carta branca da mãe para fazer o que quiser, pois ela sempre terá razão e sabia dar um jeito nessas situações.
Fomos crescendo com ela sempre presente, aquela que protege e cuida quando a mãe não está por perto. Lembro que fomos um show da Elba Ramalho no Maracanãzinho e ela junto, pois naquele tempo um adulto tinha que estar junto dos adolescentes para ir a certos eventos. Não se imaginava naquela época um adolescente ir a um grande show sem um responsável.
Topava qualquer parada. Muitas vezes era ela quem acompanhava minha mãe nos jogos do Vasco, mesmo que fossem no campo do Olaria ou do Bangu. Quando desfilamos pela primeira vez, foi ela quem fez companhia a minha mãe para nos levar a concentração do desfile.
Nasceram outros netos e ela sempre ali presente e pronta para ajudar. O tempo foi passando e a osteoporose surgiu no seu caminho para diminuir seu ritmo. Uma queda limitou seus movimentos e mesmo com duas cirurgias, a situação foi ficou difícil. Agora éramos nós que tínhamos que ir até ela.
Por vários dias ela ficava na sua cadeira na varanda da sua casa, de pescoço em pé para acompanhar tudo que acontecia no quintal e sempre me acenava quando eu saia para o trabalho. Como estava sempre atrasado, então também repetia apenas com um aceno. Certa vez minha mãe chamou minha atenção para que eu perdesse mais tempo com ela, pois não estava dando a devida atenção. Bastou me chamar a atenção para que eu relembrasse toda sua dedicação e carinho da vida toda. Passei a ir à sua varanda, bater um papo, beijá-la e na despedida ser abençoado com um ”Vai com Deus e tenha um bom dia de trabalho”. Nunca fui bom em sentimentos como paciência e tolerância, mas com certeza passei a exercitá-los e compreende-los melhor neste momento.
Fico feliz de ela ter conhecido o Eduardo. Por um bom tempo, principalmente nessa fase de limitações, Edu pode nos ajudar em vários momentos. Além de ter sido um anjo bom para mim, foi um anjo bom também para minha mãe, pois nunca se furtou em ajudar, quer seja para carrega-la na cadeira, dar explicações sobre exames e remédios ou leva-la de carro para médicos e passeios. Paciente e carinhoso foi com sua ajuda que pudemos leva-la para a festa de aniversário do Francisco em São José dos Campos.
Impressionante que algumas pessoas partem, mas sua presença é tão forte que parece que só foram dar uma saída, mas voltam a qualquer momento. Com minha vó é assim. Tanto que se minha mãe não está em casa e alguém pergunta onde ela está, respondo: “está na casa da Vovó”. E acho que vai ser sempre assim.