Naquela noite eu não imaginava
que você só estava me esperando para fechar os olhos e dormir. Nunca penso no
pior, não sei se para me iludir ou para me fortalecer, mas a verdade é que eu
não acreditava que você fosse partir, mesmo com todos aqueles aparelhos
atrelados ao seu corpo. Não me importava. Seus olhos falavam comigo e me seguia
pelo quarto como se esperasse de mim uma palavra de fortalecimento. Naquele momento
eu perguntava e respondia por você porque até esse dia dormíamos juntos no
mesmo quarto. Eu te conhecia mais do que qualquer outra pessoa. Nessa que seria
nossa última noite, nossa mãe estava deitada ao seu lado esquerdo e eu me
deitei do lado direito. Não sei se estava muito quente, mas lembro de que você
transpirava muito e resolvi abrir seu roupão e alisando seu peito olhei nos
seus olhos e respondi uma pergunta que mentalmente eu havia feito. “Dormi,
pode dormir, nós estamos aqui com você, não se preocupe, dormi”. Acho
que eram essas palavras que você estava esperando porque seus olhos foram se
fechando lentamente e você dormiu. A mãe ia chorar nesse momento e falando
entre os dentes eu disse que não chorasse. Permanecemos ali, deitados do seu
lado não sei porquanto tempo até ir chamar a médica para atestar que você
finalmente havia descansado. Saudades!
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