Eu também nunca sei dizer adeus. Nunca soube. Tenho
dificuldades de me despedir do que quer que seja. Por isso, essa sensação
estranha que invade a casa, abandonada por quatro dias, cheia de vestígios da
festa que arrumou as malas e foi embora sem dizer adeus.
Foi-se o carnaval, deixando um rastro de brilho na noite da
cidade. Os corpos ainda ressentem da maratona, os olhos buscam o reflexo de uma
lantejoula e os ouvidos se apuram na esperança de escutar a derradeira batucada
e sair por ai, esquecendo as angústias do dia a dia. Mas, tudo em vão. Mais um
ano vai passar, até que possamos novamente dissolver nossas mágoas ao som de
uma bateria abrindo os braços e o peito para os céus.
Esse ano não foi igual aquele que passou. Já é quarta feiras
de cinzas e ninguém sabe muito bem o que dizer, porque esta é a hora mais
difícil. O adeus ao carnaval. Voltar para a casa e limpar a purpurina
entranhada nos tapetes, recolher a roupa atirada nos cantos, abrir as janelas
para que o vento sopre a festa para algum outro local. Retomar a vida é muito
difícil. Sempre muito difícil.
(texto Miguel Falabela)